Agência AlagoasOficinas de teatro ajudam no tratamento de pessoas com distúrbios mentais Todo SegundoDa Agência AlagoasO tempo em que as pessoas com transtorno mental precisavam ficar confinadas em hospitais psiquiátricos, isoladas da sociedade e com a medicação sendo o único tratamento, vai ficando cada vez mais distante.
Para transformar a vida dessa parcela da população, os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) são serviços abertos e comunitários que servem como referência para o tratamento alternativo dos pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) e que necessitam de cuidado intensivo.
Uma atividade desenvolvida pelos usuários do Caps Casa Verde, ligado à Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (Uncisal), são as oficinas de teatro, que vêm ajudando no tratamento da doença.
Esse é o caso de Maria Aparecida dos Santos, 38 anos, que desenvolveu um quadro de depressão pós-parto. O problema de saúde ocorreu aos 16 anos, devido à pressão sofrida pelos irmãos e por ter sido abandonada pelo pai da criança.
“Há três anos comecei a participar das aulas de teatro e passei a aceitar o meu problema. Antes, eu dava entrada no Hospital Portugal Ramalho pelo menos duas vezes ao ano. Agora, estou bem diferente e me sinto aliviada, valorizada. Tenho muito orgulho do trabalho que faço aqui no Caps”, contou Maria Aparecida.
“Mesmo com todos os problemas, eu soube criar meus filhos, o Bruno Hélio está se formando no curso de Matemática e a Bruna Luiza terminando o colégio”, disse.
Cidinha, como é conhecida no Caps Casa Verde, falou que está elaborando uma peça para o Teatro do Oprimido, que irá mostrar um pouco da sua história de vida. “Com essa peça quero mostrar desde quando tive o distúrbio até a minha aceitação, por meio do teatro. E mostrar para a sociedade que nós também somos seres humanos”, adiantou.
Outra usuária que colhe os benefícios do tratamento feito pelo Caps é Dayse Virgínia, 20 anos, que frequenta o Casa Verde há um mês e meio. Na unidade, ela participa das oficinas de teatro e faz o tratamento há seis meses no Caps AD Everaldo Moreira.
“Com o teatro eu estou aceitando o tratamento, e com mais esperança em mudar de comportamento. Além disso, o meu relacionamento dentro de casa está bem melhor. Quero continuar melhorando para poder ajudar na mercearia dos meus pais e cursar faculdade de Serviço Social”, contou a jovem, que sofre de transtorno de ansiedade.
Além das oficinas de teatro, Dayse também faz trabalhos de artesanato, pintura e canta para ajudar no tratamento. “Todas as atividades que fazemos aqui no Caps nos ajudam a trabalhar com a nossa imaginação, porque deixar a mente vazia não é bom. Para isso, temos a ajuda da equipe que está preparada para lidar com os nossos pensamentos, conversando e nos ajudando na nossa recuperação”, salientou.
Técnica de BufãoUma das técnicas utilizadas nas oficinas de teatro é a de Bufão, que utiliza uma ‘máscara corporal’, onde os atores abordam assuntos que geralmente não são falados pela sociedade.
“Com a técnica os usuários conseguem se abrir, falando sobre a condição de cada um, dizendo o que sentem e o que querem pra si, em um clima de festa e muita música, para que, naquele momento, eles possam se distrair e esquecer um pouco do sofrimento”, explicou Henrique Souza, professor do grupo e aluno de teatro da Universidade Federal de Alagoas (Ufal).
“Quando eu chego no Caps para a oficina de teatro alguns pacientes estão alheios ao que está acontecendo naquele momento, com uma energia muito baixa, como se não estivessem ali de verdade. Mas, assim que pego no pandeiro e toco uma marchinha de Carnaval, eles mudam de atitude e começam a interagir”, relatou o professor, que tem 23 anos.
A técnica de Bufão foi ensaiada no Caps Casa Verde e encenada no Maceió Shopping no dia 16 deste mês, durante ação alusiva ao Dia Nacional de Luta Antimanicomial, celebrado no dia 18 de maio.
Caps em AlagoasNo Estado existem 64 Caps espalhados em diversos municípios alagoanos, sendo 52 Caps tipo I, sete do tipo II, um infanto-juvenil, três Caps Álcool e Droga (CapsAd) e um CapsAd tipo III.
De acordo com Claudete Lins, técnica da Supervisão de Atenção Psicossocial da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), os Caps foram criados como um serviço alternativo em substituição aos hospitais psiquiátricos, onde os usuários desenvolvem atividades coordenadas por uma equipe multidisciplinar, composta por educadores físicos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, psicólogos, médicos e enfermeiros.
“Nos Caps o paciente é tratado de maneira singular, sendo avaliado em todos os aspectos. Lá, cada uma irá receber um tratamento específico e mais humanizado, sempre com ações intensivas que possibilitem sua aproximação com a família, ofertando outra possibilidade de vida para que possa se estabelecer e encontrar um lugar na sociedade”, afirmou a técnica da Sesau.
Ela explicou que os pacientes são encaminhados para os Centros de Atenção Psicossocial conforme a idade e o transtorno mental que apresentam e conforme a ligação com o uso de alguma substância psicoativa.