Mário Jorge Lobo Zagallo nasceu em Maceió em 9 de agosto de 1931. Saiu de Alagoas ainda bebê, aos 8 meses de idade. Foi viver no Rio de Janeiro, levado pelos pais Haroldo e Maria Antonieta Lobo Zagallo. A primeira vez em que pisou no Maracanã, palco icônico do futebol mundial, ainda não calçava chuteiras; usava botinas. Tinha 19 anos e era soldado da Polícia do Exército.
Na final da Copa do Mundo de 1950, teve a infelicidade de assistir à derrota do Brasil para o Uruguai da arquibancada — era um dos responsáveis pela segurança do estádio. De capacete, farda verde-oliva e cassetete na cintura, Zagallo foi um dos mais de 190 mil espectadores que, na tarde de 16 de julho daquele dia fatídico, viu incrédulo, o ponta-direita Gigghia (1926-2015) desempatar o jogo na final contra o Brasil, aos 34 do segundo tempo, e dar o título mundial à "Celeste Olímpica", o Uruguai. "O silêncio era tão grande que, se uma mosca voasse por lá, ouviríamos seu zumbido", costumava repetir o uruguaio, autor do segundo gol daquele inesquecível 2 a 1.
Mas Zagallo, aquele soldado testemunha do Maracanazo em 1950, estava destinado à glória, não ao fracasso.
VELHO LOBO
Chega a ser até irônico constatar que Zagallo tenha saído de seu torrão, Alagoas com somente 8 meses de vida. Mas na Seleção Brasileira, uma de suas grandes paixões, Zagallo só foi começar a sua trajetória beirando os 26 anos. Isso é interessante para os dias de hoje, para as gerações que cresceram com a história de Pelé conquistando um título mundial aos 17 anos. O processo de Zagallo era muito mais comum, estreando no “escrete nacional” mais perto dos 30 do que dos 20 anos.
Surpreendente mesmo foi ele ganhar a vaga na Seleção de dois craques incontestáveis. Pepe, do Santos; e Canhoteiro, do São Paulo, dois pontas do maior quilate possível naquele final dos anos 1950. Zagallo era, como ele mesmo se descreveu em entrevistas, um jogador mais tático, quase um meia jogando aberto e, apesar de boa técnica, não tinha o mesmo poderio e habilidade de seus concorrentes. Mas foi justamente por essa característica que conquistou a condição de titular. O camisa 7 jogou todos os minutos possíveis da Copa do Mundo de 1958, na Suécia, porque dava maior unidade a um time repleto de talentos, nas laterais, no meio, no ataque, mas era muito pressionado pela própria torcida.
O papel mais importante que Zagallo cumpria era a compensação. Garrincha ia e não voltava muito pela direita e, quando tinha a bola, gastava o seu tempo com ela. O camisa 7, então, recuava bastante na hora de defender, para que Didi e Zito pudessem fazer a cobertura das costas de Garrincha e não se preocupar com a faixa esquerda. Quando tinha a bola, Zagallo sabia se virar, mas era mais rápido e objetivo nas decisões, conectando Didi, Pelé e Vavá. Subia para a área somente quando a oportunidade pintava. Foi o caso do seu único gol da Copa, o quarto dos cinco marcados na final contra a Suécia.
Assim, aos 92 anos, ele partiu, mas o "Velho Lobo" — como também era conhecido — deixa o legado de ser o único tetracampeão do mundo em futebol. Ganhou duas Copas como jogador: 1958, na Suécia, e a de 1962, no Chile. Uma como treinador, de 1970, no México, e outra, de 1994, como coordenador técnico. Ainda treinou o Brasil nas Copas de 1974, na Alemanha Ocidental (quarto lugar); de 1998, na França (vice-campeão), e de 2006, na Alemanha (quinto lugar), como assistente técnico.
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