Por Hélder Accioly Bayma
As marcas da última seca ainda estão frescas na memória e na vida dos pequenos agricultores familiares de Alagoas. Todos têm uma história para contar, de perdas de animais e de colheitas inteiras, de sonhos destruídos. Os prejuízos só não são maiores que a esperança do sertanejo de recomeçar. Com as primeiras chuvas, os agricultores semearam a terra, tem feijão na panela, milho para os animais e ainda vai sobrar um pouco para garantir uma renda extra.
O pequeno agricultor Ireneu Guedes, 61 anos, do povoado Tapuio, em Poço das Trincheiras, no Sertão alagoano, perdeu 18 cabeças de gado na última seca. “Não tinha mais comida para o gado e a pouca água era salgada. Foi difícil ver os bichos morrer de sede e de fome. Chegamos a comer a semente guardada para o próximo plantio”, conta.
Mostrando os montes de feijão de arranque na frente das casas do povoado, Irineu não cabia de felicidade. “Estamos terminando de bater o feijão e quase todo o milho já foi quebrado. É uma alegria ver os animais gordos e as sacas de feijão pelo meio da casa”, contou o incansável sertanejo.
Junto com a esposa, Maria José Quixabeira, 47 anos, e o vizinho Elias Lima, 44 anos, Irineu quebrou as últimas espigas de milho da sua roça. “Quando choveu, já tínhamos plantado e a produção não foi tão boa, esperamos que no próximo ano as chuvas ajudem ainda mais”.
Em sua casa de taipa, Maria José mostrou com orgulho o feijão colhido. “O rosinha é muito apreciado por aqui, já o carioca é a comida de todos os dias”. Maria também mostrou o balde cheio de ovos, a produção diária das gordas galinhas criadas no terreiro. “Quando chove não falta comida por aqui, quem não plantou a gente ajuda e quando sobra um pouco a gente vende”.
Não faltaram sementes para o plantio
Graças ao Programa de Aquisição de Sementes, desenvolvido pela Secretaria de Estado da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário (Seagri), não faltaram feijão, milho e arroz para a roça de Irineu e seus vizinhos. Sem falar nas sementes de mamona, sorgo, arroz e algodão.
Em oito anos, o programa distribuiu cerca de 10 milhões de quilos de sementes. Esse montante beneficiou 83 mil famílias de agricultores dos 102 municípios alagoanos. “Estamos cumprindo um papel fundamental: garantir a safra para a alimentação das famílias e a geração de renda”, afirmou Henrique Brandão, gestor do programa
Somente em 2014 o governo distribuiu 1 milhão e 170 mil quilos de sementes selecionadas – com um potencial de germinação de 90% e capacidade de produzir cinco vezes mais que um grão comum. Os recursos investidos no programa de 2007 a 2014 somam R$ 47 milhões e 632 mil reais, oriundos do Fundo Estadual de Combate e Erradicação da Pobreza (Fecoep).
“Em março, no dia de São José, teve chuva e boas sementes para o plantio. Isso foi possível porque não descuidamos e fizemos a entrega sistemática todos os anos”, afirmou Miguel Antônio Oliveira, assessor técnico da Seagri.
Segundo Miguel Antônio, que trabalha diretamente com os agricultores familiares, a produção no estado foi relativamente boa. “Isso levando em consideração a irregularidade das chuvas. Podemos destacar também a qualidade das sementes”.
“No Baixo São Francisco, a produtividade de arroz, segundo dados da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf), passou de 3 mil quilos por hectare, há seis anos, para 7.300 quilos por hectare atualmente”, destacou Henrique Brandão.
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