Mesmo fora da lista dos dez estados com maior taxa de letalidade policial em 2024, Alagoas segue em estado de atenção. Com 2,3 mortes causadas por policiais a cada 100 mil habitantes, o estado se mantém próximo da média nacional (2,9), segundo o novo Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado nesta quinta-feira (24). O levantamento, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, aponta um total de 6.243 mortes decorrentes de intervenções policiais no país — uma média de mais de 17 por dia.
Apesar da redução de 2,7% em relação ao ano anterior (quando houve 6.413 óbitos), o dado escancara a permanência de um padrão de violência policial com forte recorte racial, social e territorial. Em Alagoas, o perfil das vítimas reflete a tendência nacional: homens negros, jovens, moradores das periferias e das regiões mais vulneráveis do estado.
O Anuário destaca que 78,4% das vítimas de ações policiais no Brasil eram pessoas negras. Segundo o Fórum, uma pessoa negra tem 3,5 vezes mais chances de morrer numa ação policial do que uma pessoa branca. A constatação revela o racismo estrutural que ainda permeia o modelo de segurança pública em boa parte do país.
Em Alagoas, o reflexo é evidente. Embora os números absolutos não estejam entre os mais altos, os casos continuam a causar comoção. Em maio deste ano, por exemplo, a morte do adolescente Gabriel Lincoln Pereira da Silva, de 16 anos, durante uma perseguição policial em Palmeira dos Índios, gerou indignação e mobilização do Ministério Público. O caso reacendeu o debate sobre o uso da força e a ausência de protocolos que garantam a vida, especialmente de jovens periféricos.
Para especialistas em segurança pública e direitos humanos, os números devem ser interpretados à luz do modelo de policiamento adotado, especialmente em áreas como a região Metropolitana de Maceió e o Agreste do Estado, onde operações com desfechos letais vêm sendo registradas nos últimos anos.
Panorama nacional
O cenário nacional mostra a Bahia no topo do ranking de mortes por intervenção policial, com 1.556 registros em 2024. Em seguida vêm São Paulo (813), Rio de Janeiro (703), Pará (606) e Paraná (400). Somados, esses cinco estados respondem por mais de 65% de todas as mortes causadas por policiais no Brasil.
Mas quando o critério é a taxa proporcional à população, o destaque — negativo — vai para o Amapá, com impressionantes 17,3 mortes por 100 mil habitantes, seguido por Bahia (10,5), Pará (7,0), Sergipe (6,3) e Mato Grosso (5,6). O dado escancara a violência em estados com menor população, mas com atuação policial mais agressiva.
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