A ausência de controle eletrônico de velocidade já é visível e preocupante nas rodovias federais que cortam Alagoas. A reportagem do Portal Todo Segundo percorreu um trecho da BR-316 na manhã desta sexta-feira (08), e constatou o que especialistas temem: placas de limite de velocidade ignoradas, motoristas ultrapassando em locais proibidos e um silêncio perigoso onde antes havia o alerta dos radares.
Desde o dia 1º de agosto, todos os radares das rodovias federais brasileiras foram desligados por falta de recursos. A medida atinge diretamente 47 mil quilômetros de estradas monitoradas — incluindo trechos de alta periculosidade em Alagoas, como as BRs 101, 423, 104 e 316.
O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) confirmou que a paralisação é resultado de um corte drástico no orçamento: o Programa Nacional de Controle Eletrônico de Velocidade (PNCV) teve apenas R$ 43,3 milhões liberados pela Lei Orçamentária Anual, quando o necessário seria R$ 364 milhões para manter os contratos em funcionamento. Mesmo com suplementações, o total disponível (R$ 79,6 milhões) não cobre os custos até dezembro.
Insegurança crescente no Sertão e no Agreste
Em cidades do Sertão e do Agreste de Alagoas, onde os radares ajudavam a conter o excesso de velocidade em zonas urbanas e rurais, motoristas relataram já sentir os reflexos da suspensão. Caminhoneiros e moradores de beira de pista temem o aumento de acidentes.
"Antes, os motoristas respeitavam mais. Agora passam voando, até naquelas curvas fechadas. É um perigo", lamenta José Milton, comerciante de um ponto de apoio às margens da BR-316, trecho localizado, em Palmeira dos Índios.
Risco de aumento nos acidentes fatais
A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta o excesso de velocidade como principal causa de mortes no trânsito. Com os radares desligados, especialistas estimam uma alta no número de sinistros. Só em 2024, o Brasil registrou cerca de 34 mil mortes e 200 mil feridos com sequelas em rodovias. Em Alagoas, os dados do Observatório de
Segurança Viária revelam que os trechos federais concentraram mais de 60% das ocorrências fatais.
Além da tragédia humana, o impacto econômico é bilionário: estudo do Ipea mostra que os acidentes em rodovias federais geram R$ 22,6 bilhões anuais em custos para o país — incluindo gastos com saúde, previdência, perdas produtivas e danos materiais.
Judicialização à vista e prejuízo à arrecadação
A Associação Brasileira das Empresas de Engenharia de Tráfego (Abeetrans) já anunciou que entrará na Justiça caso os radares não sejam religados. Um acordo entre o governo federal e o Ministério Público Federal (MPF) obriga a manutenção e ampliação do programa. O descumprimento pode gerar sanções e comprometer metas do Plano
Nacional de Redução de Mortes e Lesões no Trânsito (PNATRans), que prevê reduzir em 50% os óbitos até 2030.
Outro revés é na arrecadação. O sistema eletrônico de fiscalização gerava, em média, R$ 1,1 bilhão por ano com multas — recursos que, desde 2023, vêm sendo redirecionados para despesas administrativas do DNIT, enfraquecendo o próprio PNCV.
Alerta urgente
Atualmente, 21 contratos do programa cobrem as 27 unidades da federação, com cerca de 2 mil faixas monitoradas. A meta era dobrar esse número, mas o futuro do projeto está paralisado. Enquanto Brasília discute soluções com a Casa Civil e o Ministério dos Transportes, a realidade nas rodovias é de vulnerabilidade.
Em Alagoas, onde as BRs ligam regiões estratégicas e têm histórico de acidentes graves, o desligamento dos radares já se traduz em medo — e, possivelmente, em tragédias anunciadas.
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