A partir de 1º de janeiro de 2024, qualquer editora poderá publicar Vidas Secas, Angústia e São Bernardo, entre outros livros já editados do escritor alagoano Graciliano Ramos (1892-1953).
A legislação brasileira estabelece que a obra de um autor entra em domínio público no dia 1° de janeiro seguinte após a morte dele completar 70 anos. Até agora, os direitos eram divididos em cinco partes, entre filhos, irmãos e netos. “Aceitar eu não aceito, mas é a lei e tem que cumprir. Uma lei absurda”, disse ao Estadão o escritor Ricardo Ramos Filho (1954), neto de Graciliano e filho de Ricardo (1929-1992).
Embora não seja exatamente contra o acesso gratuito à obra de seu avô, Ricardo Filho não critica a comercialização das obras onde quem ganha não é a família ou o público, mas, sim, a editora. As editoras Todavia e Companhia das Letras trabalham para lançar os primeiros livros de suas coleções dedicadas a Graciliano Ramos, enquanto a Record, que ainda deve pagar royalties à família, prepara edição de bolso de Vidas Secas e já lançou um box para colecionador.
Vida de Graciliano Ramos
Graciliano Ramos de Oliveira nasceu em 27 de outubro de 1892, no município de Quebrangulo, no Alagoas. Filho de comerciantes, ele teve uma vida confortável durante a infância e pôde se dedicar aos estudos. Não por acaso, seu assunto de maior interesse eram as línguas — principalmente a portuguesa.
Ramos começou a escrever cedo e chegou a publicar seu primeiro conto aos 11 anos. Anos depois, ele passaria a produzir textos para periódicos brasileiros, os quais assinava com o pseudônimo Feliciano Olivença devido à sua pouca idade. Na juventude, trabalhou em jornais e publicações literárias. Além disso, fez parte do Exército, ajudou seus pais na loja da família e deu aulas de português.
Anos depois, o rapaz se fixou na cidade de Palmeira dos Índios, a cerca de 136 quilômetros de Maceió. Por lá, se envolveu com política e acabou se tornando o prefeito da cidade, em 1927. Alguns especialistas contam que, por conta de seus dotes literários, Ramos impressionava outros profissionais com seus relatórios bem escritos.
Mas, mesmo com o reconhecimento pelos “belos” documentos redigidos, esse mundo não era para o alagoano. Para ele a política era conturbada, pois envolvia muitos conflitos de interesse e burocracias. Isso fez com que ele renunciasse do cargo dois anos após a posse.
A política, contudo, não desapareceu de sua vida. Até sua morte, em março de 1953, Ramos atuou em diversos outros cargos públicos, principalmente em posições que envolviam assuntos ligados à educação.
Mesmo com todas essas funções, Ramos encontrou tempo para se casar duas vezes, ter oito filhos e, é claro, escrever. Ele foi um dos principais expoentes da segunda fase do Modernismo e, por seus mais de dez livros publicados, ganhou diversos prêmios e se consagrou um dos maiores autores do Brasil.
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