Em Alagoas, a violência contra meninas segue em alta e assume novas formas a cada ano — muitas delas agora dentro do ambiente digital. Os dados reforçam o cenário revelado pela pesquisa “Percepções sobre violência e vulnerabilidade de meninas no Brasil”, realizada pelo Instituto QualiBest, que ouviu 824 pessoas de todas as regiões do país e de diferentes classes sociais.
O alerta ganha força após a prisão de um professor de inglês e de outro homem durante a Operação Nacional Proteção Integral III, da Polícia Federal, deflagrada na última semana em Palmeira dos Índios e Santana do Ipanema. O caso evidencia como o estado também enfrenta as novas faces da violência digital.
De acordo com o levantamento, 87% dos brasileiros afirmam que a violência sexual é o tipo de agressão que mais vitima meninas no país, enquanto 43% a consideram a violência mais comum. Além disso, 90% dos entrevistados reconhecem a adultização de meninas — quando são tratadas como mulheres — como uma forma de violência. Desses, 61% afirmam que essa prática é “totalmente violenta”.
Para Ana Nery Lima, especialista em gênero e inclusão da Plan Brasil, o reconhecimento de todas as formas de violência é essencial para que meninas consigam identificar e denunciar abusos.
“Quando falamos de violência de gênero, muitos pensam apenas na agressão física. Mas há uma série de violências simbólicas e psicológicas que antecedem o feminicídio”, destaca.
O estudo mostra que seis em cada dez brasileiros acreditam que as meninas estão mais vulneráveis hoje do que há uma década. Entre pais e mães, essa percepção chega a 69%.
A internet e as redes sociais foram apontadas como o ambiente mais perigoso para meninas por 83% dos entrevistados, superando até o risco dentro das próprias casas (33%).
Para Juliana Cunha, diretora da SaferNet Brasil, esse dado é preocupante, já que a maioria dos casos de violência sexual ocorre dentro do lar, praticados por pessoas conhecidas.
“Ainda há uma crença de que o perigo vem de estranhos, quando, na realidade, ele está muitas vezes dentro de casa ou entre pessoas de confiança”, explica.
A pesquisa também alerta para a crescente ameaça dos crimes digitais, especialmente o uso de deepfakes sexuais — montagens feitas com inteligência artificial que inserem o rosto de meninas em imagens íntimas, sem consentimento.
Segundo a SaferNet Brasil, entre 2023 e 2024 foram identificados casos em escolas de dez estados brasileiros, incluindo Alagoas, com vítimas e agressores todos menores de idade. Em quase todos os episódios, os crimes aconteceram em instituições de ensino particulares, reforçando a necessidade de políticas de prevenção digital e educação sobre segurança online.
O levantamento do Instituto QualiBest também aponta que 51% dos pais permitem que filhos e filhas menores de 18 anos mantenham perfis nas redes sociais, e 74% publicam fotos das crianças. Apenas 6% admitem fazê-lo em perfis abertos, enquanto 8% não aplicam restrições.
Para especialistas, essa exposição aumenta a vulnerabilidade e pode favorecer abusos, aliciamentos e manipulações online. Por isso, 92% dos entrevistados defendem a responsabilização de adultos que lucrem ou exponham meninas na internet. “É fundamental falar sobre consentimento, privacidade e respeito nas escolas e nas famílias. A prevenção começa com diálogo e educação digital”, reforça Ana Nery Lima.
Com casos confirmados de deepfakes em escolas e prisões recentes por crimes digitais, Alagoas aparece entre os estados com maior necessidade de ações de prevenção e proteção digital. Especialistas defendem políticas públicas voltadas à educação midiática, à segurança online e à capacitação de professores e famílias.
“O problema não é apenas virtual. Ele reflete uma cultura que ainda sexualiza meninas e normaliza comportamentos abusivos. Alagoas precisa estar atenta a esse cenário”, conclui Ana Nery.
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