Agência SenadoCrise no PT: 263 petistas eleitos abandonam partido Todo SegundoAbalado por divergências locais, pelos desdobramentos da Operação Lava Jato e, mais recentemente, por decisões impopulares tomadas pelo Palácio do Planalto para realizar o ajuste fiscal, o PT perdeu 263 filiados eleitos desde os últimos pleitos regional (2012) e geral (2014), aponta levantamento feito pelo R7 com base em dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Ao todo, 25 prefeitos, 43 vice-prefeitos e 194 vereadores deixaram o partido voluntariamente desde janeiro de 2013. Soma-se ao grupo ainda a senadora Marta Suplicy (SP), eleita em 2010, e desfiliada em 28 de abril deste ano (veja gráfico com todos os dados abaixo).
Nesses dois anos e meio, o partido conseguiu a adesão de apenas um vice-prefeito e de cinco vereadores eleitos por outras legendas.
A maior parte dos ex-petistas migraram para recém-fundados PROS ou para o SD.
No caso do Legislativo, a mudança para novos partidos impede que a legenda original possa pedir o cargo. A Justiça eleitoral entende que os detentores de cargos Executivos podem permanecer no poder independentemente do partido que escolham.
Sangria do Sudeste ao Nordeste região onde houve maior sangria no partido foi o Sudeste, com 84 baixas — o Estado de São Paulo concentrou mais da metade dos casos: 47. Reduto petista desde a primeira eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002, o Nordeste é a segunda região mais afetada pelas baixas, com 82 abandonos.
Para chegar aos números, a reportagem levou em consideração os casos de “desfiliação” e de “cancelamento de filiação a pedido do eleitor” que constam no TSE.
O R7 ainda entrou em contato com todos os desfiliados que possuíam e-mail cadastrado no Repositório de Dados da Justiça Eleitoral e desconsiderou os casos inseridos de modo equivocado no banco de dados do tribunal.
Considerando o total de eleitores — e não apenas baixas voluntárias entre filiados eleitos —, o PT perdeu 14.744 integrantes nos últimos dois anos e meio. Nesse recorte, porém, o partido ainda tem saldo positivo: recebeu a adesão de 15.473 pessoas.
Esses dados, porém, são um termômetro menos eficaz para detectar a situação de uma legenda, já que eleitores filiados há anos podem deixar de militar pelo partido sem que, necessariamente, peçam a desfiliação.
Entre os eleitos, as baixas no PT ainda tendem a aumentar. Recentemente, o deputado federal Wellington Prado (MG) pediu autorização para deixar a legenda. O PT estuda pedir o cargo, caso a saída se concretize.
Como ainda não foi efetivada, a desfiliação de Prado não foi computada no levantamento da reportagem.
Embora não tenha levado adiante a ameaça, o senador Paulo Paim (RS) também ensaiou abandonar o PT em junho por causa da posição da presidente Dilma Rousseff frente à fórmula 85/95, que alivia o impacto do fator previdenciário na aposentadoria.
— Tudo acaba se movendo. Ou mudam as coisas ou a gente — chegou a afirmar em junho, quando o Planalto ameaçava vetar a medida aprovada pelo Congresso.
Outro que chegou a ensaiar a legenda foi Rodrigo Neves, vice-prefeito de Niterói (RJ).
Já o apresentador José Luiz da Datena comunicou sua saída ao PT de Ribeirão Preto (SP), ao qual era filiado desde 1992. Ele deve se candidatar à Prefeitura de São Paulo pelo PP.
O caso de Datena também não foi computado no levantamento do R7, pois ele não tem cargo eletivo.
Questões regionais
Boa dos desfiliados ouvidos pela reportagem parte afirmou ter decido deixar a legenda por ter-se desapontado com decisões recentes do partido, sobretudo ligados a questões regionais.
A vereadora Luciana Miranda, de Palmares (PE), disse “insatisfeita com a conduta dos integrantes do partido municipal”, que controlavam secretarias municipais.
— Seria impossível continuar num Partido que apoia um Prefeito que comete vários crimes contra a população.
A parlamentar deixou o partido em outubro de 2013.
— Filiei-me ao SD — afirmou — Era um partido novo no qual poderia me filiar legalmente, e não sofrer danos [...] Além do mais precisava de um partido que fosse oposição”.
Já Emilio Torres de Almeida, o Emílio do Raio-X, vereador de Formosa (GO), justifica sua decisão por causa de um racha local — classificado por ele como “divisão em alas do diretório do partido”. Também em outubro de 2013 ele passou para o SD.
— Um novo partido, com perspectiva diferenciadas do PT.
Medida ardilosa
Em Sousa (PB), a divergência interna chegou a tal ponto que o vereador Lafayette Gadelha, cuja desfiliação em setembro de 2013 consta do banco de dados do TSE, diz ter sido alvo de uma artimanha.
— Não me desfiliei — disse — Ocorre que o atual presidente do diretório municipal, que tentou, em 2012, impedir a minha candidatura e possui sérias divergências comigo, retirou meu nome da lista que é enviada ao TRE duas vezes por ano, numa medida ardilosa, oculta e arbitrária.
O caso de Lafayette Gadelha não foi computado pelo R7.
Algumas desfiliações ocorreram de forma mais amena. Foi o caso de Valmir Alcântara de Oliveira, o Careca do Esporte, vereador de Santa Bárbara D`Oeste (SP), que se filiou ao PROS em setembro de 2013.
— Não vislumbrava espaço na legenda — A saída se deu de forma tranquila, sem atrito e de maneira cordial.
Militante do partido desde os anos 1980, Durval Orlato, vice-prefeito de Jundiaí (SP), cita motivos mais estruturais, como o “distanciamento dos ideais originais” pela legenda, para ter deixado o partido no dia 12 do mês passado. Assim como Careca do Esporte, Durval filiou-se ao PROS.
— Tenho contatos com lideranças estaduais desse novo partido e me parece uma nova oportunidade de continuar atuando partidariamente e com liberdade de construir objetivos comuns.
Inconsistências
Embora a maior parte dos dados do TSE checados pelo R7 tenham correspondido à realidade, alguns casos haviam sido computados de modo errado. É o caso, por exemplo, de Lenildo Morais, vice-prefeito de Patos (PB), que consta como desfiliado desde 2013.
— Nunca saí do PT — afirmou — Em 2014, fui candidato.
O R7 excluiu do levantamento as inconsistências detectadas.
A reportagem também procurou, nas manhãs de quarta-feira (4) e de quinta-feira (3), o Diretório Nacional do PT. Questionado sobre os números obtidos pelo R7, o partido não se manifestou até a noite de sexta-feira (4).
Do R7