Agência BrasilDilma critica condução coercitiva de Lula e se defende de acusações de DelcÃdio Todo SegundoEm pronunciamento a jornalista, na tarde desta sexta-feira (4), a presidente Dilma Rousseff criticou a condução coercitiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para prestar depoimento à Polícia Federal ocorrida horas antes. Dilma também se defendeu das denúncias contidas no pré-acordo de delação premiada do senador Delcídio do Amaral.
"Eu quero manifestar o meu mais absoluto inconformismo com o fato de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que por várias vezes compareceu de forma voluntária, para prestar esclarecimentos perante as autoridades competentes, seja agora submetido a uma desnecessária condução coercitiva para prestar mais um outro depoimento", afirmou Dilma.
"O ambiente republicano, o ambiente democrático da Constituição, sob a orientação do Supremo Tribunal Federal, constitui importante salvaguarda. E segundo o entendimento de nossa Suprema Corte, o respeito aos direitos individuais passa, nas investigações, pela adoção de medidas proporcionais, que jamais impliquem em providências mais fortes, ou seja, mais gravosas do que aquelas necessárias para o esclarecimento dos fatos", prosseguiu a presidente.
Delação de DelcídioA maior parte do pronunciamento de Dilma, porém, não foi em defesa de Lula. Em cerca de 10 minutos de fala, a presidente usou 8 minutos para defender-se das denúncias contidas no pré-acordo de delação premiada do senador Delcídio do Amaral, revelado na quinta-feira (3) pela revista Isto É. "Manifesto minha indignação com os termos das denúncias que teriam sido firmados nesta delação", afirmou Dilma.
Em relação à compra de Pasadena, a presidente afirmou que já prestou informações à Justiça. "Em 2014, eu quero lembrar aos senhores, que eu prestei informações detalhadas à Procuradoria-Geral da República a respeito dos fatos relativos à aquisição da refinaria de Pasadena pela Petrobras. (...) Essas informações foram exaustivas embasadas em atas de reunião do Conselho da Petrobras. Com base nesses documentos, que nós enviamos à Procuradoria, o procurador-geral da República, doutor Rodrigo Janot, determinou o arquivamento da investigação", disse a presidente.
No pré-acordo de delação, Delcídio afirma que Dilma tinha conhecimento dos detalhes da compra da refinaria. "Observo que, nas declarações atribuídas ao senador Delcídio do Amaral, nenhum elemento concreto, nenhum elemento novo foi apresentado de forma a propiciar qualquer alteração acerca dessa compreensão firmada pelo senhor procurador-geral", prosseguiu Dilma.
Dilma também negou que tenha tentado interferir na Operação Lava Jato por meio de uma reunião como o presidente do STF, Ricardo Lewandowski, e por meio da nomeação de ministro Marcelo Navarro ao STJ.
"Em nota, o presidente da Suprema Corte desmentiu essa absurda versão, afirmando textualmente o que nós já havíamos anteriormente afirmado de público, ou seja, que o objeto dessa reunião foi unicamente a discussão acerca de um projeto de lei que tratava do reajuste de servidores do poder Judiciário", disse.
Em relação à nomeação de Navarro, Delcídio afirma, no pré-acordo de delação, Dilma o havia pedido para conversar com o ministro para saber se ele votaria a favor da soltura dos empresários Marcelo Odebrecht, da Odebrecht, e Otávio Marques de Azevedo, da Andrade Gutierrez. "Eu quero declarar que jamais falei com o senador a esse respeito", disse a presidente. "Aliás, do ponto de vista institucional, não teria nenhuma razão de pedir a um senador para conversar com um juiz, até porque não é o senador que participa dos processos de nomeação de ministros nem do STJ, nem tampouco do Supremo".
Sobre o voto de Navarro, que realmente foi favorável à soltura dos empresários, embora tenha sido vencido por 4x1 pelos outros ministros da Turma, a presidente afirmou: "É importante destacar que eu nomeei 16 ministros do STJ e cinco ministros do Supremo e que, na Turma a qual ele se refere, tinha três ministros nomeados por mim. Um deles votou a favor, os outros dois votaram contra."
Dilma afirmou ainda que o próprio ano em que CPI dos Bingos ocorreu, 2006, é suficiente para desmentir a afirmação de Delcídio de que o encerramento da investigação parlamentar aconteceu para não prejudicar a sua campanha ao Planalto em 2010. "Ela foi aberta a uma semana de minha posse como ministra-chefe da Casa Civil e distante quatro anos de minha campanha à Presidência da República. Sem dúvida, ninguém, em 2006, tinha a possibilidade de supor que eu seria candidata à Presidência da República e antever essa situação", afirmou.
A presidente atribuiu ainda a delação de Delcídio a um desejo de vingança pelo fato de o senador não ter sido defendido pelo PT após ser detido sob a suspeita de tentar obstruir as investigações da Operação Lava Jato. "Acredito ser lamentável que ocorra ilegalmente o vazamento de uma hipotética delação premiada que, se chegou a ser feita, gere um motivo único: a tentativa de atingir a minha pessoa e o meu governo. Provavelmente pelo desejo de vingança, imoral e mesquinho desejo de vingança, e retaliação de quem não defendeu quem não poderia ser defendido pelos atos que praticou".