04/10/2016 07:43:08
Brasil
Eleições 2016 colocam os aliados PMDB e PSDB em rota de colisão
Partidos disputarão principais cargos da República, mas sem embate ideológico e de projetos
DivulgaçãoEleições 2016 colocam os aliados PMDB e PSDB em rota de colisão
Todo SegundoAs eleições municipais do domingo (2) confirmaram a ascensão de PMDB e PSDB no atual cenário político. Mas a acachapante vitória do tucano João Doria em São Paulo e as derrotas peemedebistas na capital paulista e no Rio de Janeiro — com Marta Suplicy e Pedro Paulo, respectivamente — colocam as duas legendas em confronto pela hegemonia política brasileira. A disputa será pelos principais cargos do País, mas sem o confronto ideológico que foi característico da rivalidade PT-PSDB.

A aliança PMDB-PSDB atualmente sustenta a gestão Michel Temer no Congresso, mas já foi desfeita mais de uma vez nas últimas décadas. Base de sustentação dos anos FHC (1995-2002), os dois partidos ficaram em lados opostos durante os governos Lula e Dilma (2003-2015), mas voltaram a se unir neste ano em torno do processo de impeachment da ex-presidente.

Esse confronto já vem se desenhando no Congresso, onde tucanos cobram austeridade e rapidez do presidente Temer nas reformas trabalhista e da Previdência.

O auge das faíscas foi o fatiamento do julgamento de Dilma Rousseff: uma manobra do PMDB manteve os direitos políticos da petista, o que foi bastante criticado pelos caciques tucanos. Mas o ponto máximo desse embate será daqui a dois anos, nas eleições presidenciais de 2018.

Para o cientista político e professor da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) Pedro Fassoni Arruda, a vitória de Doria aprofundou a divisão interna no PSDB. De um lado, estão os apoiadores do ministro das Relações Exteriores, José Serra, e, do outro, os aliados do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.

— Dentro do partido, os ganhadores são Alckmin, Doria e Bruno Covas [vice de Doria]. Por outro lado, setores ligados a José Serra “romperam” com os demais, porque Serra, Aloysio Nunes e Alberto Goldman não apoiaram Doria. Fora o Andrea Matarazzo, que rompeu com o partido para ser vice da Marta [Suplicy].

Além da capital paulista, os tucanos obtiveram outras vitórias importantes nas maiores cidades do País, como Barueri, Itaquaquecetuba, Mogi das Cruzes, Piracicaba, Praia Grande, Santos, São José dos Campos e Taboão da Serra, em São Paulo, além de Governador Valadares (MG), Ananindeua (PA), Campina Grande (PB) e Pelotas (RS).

A vitória do PSDB veio na derrocada do PT, que perdeu mais da metade das prefeituras que tinha, conquistando somente uma capital, Rio Branco (AC).

Já o PMDB, mesmo tendo vencido no maior número de cidades, é outro grande derrotado nestas eleições, segundo Arruda — o que dá mais munição para as ambições do PSDB.

O partido era a principal força no Rio de Janeiro, com governo do Estado e a prefeitura da capital. Porém, no domingo, o partido ficou de fora do segundo turno. Em São Paulo, a candidata Marta Suplicy, que deixou o PT para se filiar ao PMDB, ficou na 4ª colocação, atrás de Celso Russomano (PRB).

— Na capital paulista, apenas dois filiados do PMDB foram eleitos para a Câmara dos Vereadores.

Para o cientista político e professor da USP (Universidade de São Paulo) Wagner Pralon Mancuso, a união entre PMDB e PSDB “não se traduziu em resultado político para o partido de Michel Temer”.

— O PMDB teria oportunidade única de ser “cabeça de chapa”, como nunca fizeram. E o PSDB também quer ser. Então, agora, eles vão brigar entre eles.

Xeque-mate em Serra
O sociólogo Paulo Silvino Ribeiro, professor da FESPSP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo), afirma que Alckmin se torna o nome mais provável do partido para 2018, deixando José Serra de lado.

— O Serra não tem outra alternativa [de disputar a Presidência] se não for para o PMDB. Se fosse um jogo de xadrez, eu diria que o Alckmin deu um xeque-mate.

Silvino ressalta, contudo, que a oposição entre PMDB e PSDB não será ideológica, como é a disputa entre PT e PSDB desde a ascensão de Lula e FHC no final dos anos 1980.

— Eu não arrisco dizer que esses dois partidos irão ser os grandes rivais, que vão criar uma polarização. Eu acho que não, porque o PMDB é um partido fisiológico, sempre esteve no governo e nunca teve bandeiras como o PT teve em algum momento. A disputa desses dois partidos será sempre a disputa em relação à vaga, mas não uma disputa de projeto, de conflito. Essa disputa nunca vai ser tão clara, ela vai ser circunstancial.

O sociólogo da Fespsp destaca também a ascensão do PSD, do ministro Gilberto Kassab, que se tornou o terceiro partido em número de prefeituras, atrás somente de PMDB e PSDB.

— O PSD ganhou várias prefeituras e foi para segundo turno em várias cidades, e o PSD também serviu de casa para outros candidatos. Como na cidade de Jundiaí (SP), uma das mais ricas do Estado, onde o prefeito Pedro Bigardi saiu do PCdoB e foi para o PSD.

E a esquerda?
Silvino diz que o resultado mostra uma esquerda fragilizada e associada, equivocadamente, à corrupção.

— A opinião pública não tem clareza sobre o que é PT, PSOL, PSTU. Associam o PT e os outros partidos todos como esquerda, associando a esquerda à corrupção, o que é uma associação equivocada.

O sociólogo aponta ainda a falta de diálogo com a população como explicação para as derrotas dos partidos de esquerda.

Para Mancuso, as eleições em São Paulo e no Rio mostram dois caminhos distintos no cenário político do Brasil.

— São duas tendências diferentes nas duas principais cidades do País. Em São Paulo, é o fortalecimento do discurso da “direita antipolítica”, com Doria, dizendo que o importante é ter uma administração à moda das empresas privadas no setor público. E no Rio, o surgimento de uma “nova esquerda”, não petista, [com Marcelo Freixo, do PSOL], que aponta justamente em outra direção com o fortalecimento de direitos sociais.

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