Por Carlos Augusto
Bares fechando à meia-noite do sábado, véspera do pleito, com os boêmios de carteirinha permanecendo lá dentro, e ao saírem, levando ainda o seu “combustível” pra casa para comemorarem sei lá o que. Talvez, antecipadamente, festejando a vitória dos seus escolhidos que, dali a mais três anos e meio, pelo menos, voltarão a assediá-los de uma forma ou de outra. Pois durante os seus virtuais mandatos, passam a ser, como diz o dito popular, “como pé de cobra, quem vê morre”. Tudo se transforma numa grande farra. Pelas ruas, praças e becos os comentários, os prognósticos e até as gozações correm à solta entre eleitores eufóricos, sejam adversários ou aliados.
Pregam os políticos que o voto é o pleno exercício da cidadania. Que cidadania? Os brasileiros acaso são respeitados e tratados como cidadãos pelos seus representantes? Comprovada e definitivamente, não! Foram esses mesmos políticos que apelidaram as eleições de “festa da democracia”. Por Democracia, entende-se, inclusive, liberdade. Porém o nosso voto é obrigatório. Não livre, nem facultativo, a não ser aos 16 anos e após os 70, fato que não altera em muito a prática do sufrágio forçado.
A festa que se vê é outra. É também uma forma até inconsciente de se esconder a insatisfação, as decepções e o sofrimento de um povo humilhado e vilipendiado. É nada mais do que a festa do descrédito, da desonestidade e da falta de respeito aos eleitores. População, não imbecil, mas imbecilizada pelos que os conduzem, feito gado, como diz o poeta e cancioneiro popular: “Povo marcado, povo feliz”. Que ironia!
Apesar de todas as provas de fracasso, as eleições de representantes ainda são consideradas por muitos uma “festa da democracia”, na qual o eleitorado “exerce a soberania popular”. Não é preciso muito para que seja percebido que, ao contrário do que essas pessoas ainda acreditam, o sistema político representativo baseado em eleição de integrantes dos poderes Executivo e Legislativo, no Brasil e em tantos outros países, está falido enquanto promotor de governos orientados ao interesse público e à justiça social.
Ainda acredito em políticos honestos, embora sejam poucos os exemplos, mas existem, para pelo menos salvarem um pouco da reputação desgastada da classe. Conheço, sim, os que assumem um mandato se sujeitando inclusive a perder até o pouco que já têm. Aqui mesmo neste espaço já disse que são esses que, quando persistem, muitas vezes empobrecem mais ainda ou desistem de sua missão.
É domingo o dia de eleição, e já é costumeiro ouvir, em dias como esses, de um eleitor para outro, a frase “já perdeu o valor?”. A forma de perguntar, sarcasticamente, se já teria votado, é a expressão que melhor traduz a falta de respeito com que o eleitor é visto pelos senhores candidatos. Em sua grande maioria, o nosso povo realmente não dá o devido respeito a si próprio.
A cultura do assistencialismo e do vício e apego ao poder vão manter, ainda por muitos anos, infelizmente, essa relação de dependência, mentira e cumplicidade entre político e eleitor em nosso País.
Façam a sua “festa”. O que acontecerá nos dias seguintes não será nenhuma novidade., mas, sim, responsabilidade de todos.
E-mail: [email protected]
Telefone: 3420-1621