DivulgaçãoRenan e Sarney tentaram falar com ex-ministro próximo de Teori, diz Machado Todo Segundo
Ao explicar para os investigadores os diálogos gravados em março com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o senador Romero Jucá (PMDB-RR) e o ex-presidente José Sarney, o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado revelou que os caciques do PMDB efetivamente tentaram falar com o ex-ministro do STJ Cesar Asfor Rocha, que é próximo do relator da Lava Jato no Supremo Teori Zavascki, mas não conseguiram pois ele estava viajando.
Segundo Machado, Renan e Sarney, que aparece no diálogo de março afirmando "preciso falar com Cesar", tentaram encontrar o ex-magistrado, mas não tiveram sucesso. "Que inicialmente procuraram [Renan e Sarney] o ex-ministro César Asfor Rocha, que estava viajando e não foi encontrado", disse Machado em depoimento aos investigadores da Lava Jato no dia seis de maio.
Machado também deixou claro que a preocupação dele e dos peemedebistas com os quais conversou era impedir que a investigação contra ele fosse desmembrada do Supremo e fosse encaminhada para o juiz Sérgio Moro, responsável pela Lava Jato em primeira instância, no Paraná.
Uma das estratégias levantadas foi a de buscar algum interlocutor para conversar com Teori e, no diálogo, Sarney é categórico ao afirmar que Asfor Rocha "tem total acesso ao Teori. Muito muito muito muito acesso, muito acesso"
Asfor Rocha presidiu o STJ e, em 2009, concedeu uma liminar que barrou a Operação Castelo de Areia. Semelhante à Lava Jato, a investigação realizada na época também avançou sobre a relação entre as grandes empreiteiras do País e os partidos políticos. A liminar acabou sendo referendada pelo plenário do STJ e a operação foi anulada.
O delator também confirmou que o contato que buscavam com o ministro do Supremo não era "convencional". "Os advogados constituídos do depoente não estavam tendo dificuldade de acesso ao Ministro Teori, mas, para o
depoente, a questão não se resolveria pelos modos convencionais e exigiria a intervenção de pessoa com vínculos pessoais com o Ministro Teori para convencê-lo a não desmembrar", relatou Machado.
Teori foi ministro do STJ antes de ser nomeado por Dilma para o Supremo. Em outro diálogo gravado por Machado, que levou à queda de Romero Jucá (PMDB) do Ministério do Planejamento em apenas 12 dias do governo interino de Michel Temer, o agora senador Jucá relatou a dificuldade de tentar algum contato com Teori para influenciar no andamento das investigações. "É um cara fechado", disse Jucá.
Outro interlocutor que Renan e Sarney tentaram procurar para interceder junto a Teori foi o advogado Eduardo Ferrão. Neste caso, porém, Machado admite aos procuradores que "não teve nenhuma resposta sobre o assunto" e que "não sabe se a conversa aconteceu". O processo contra Machado também não foi desmembrado no Supremo.
Quando os diálogos dos caciques peemedebistas com Machado vieram à tona, Asfor Rocha e Eduardo Ferrão negaram que foram procurados para tratar de interferências na Lava Jato. O ministro Teori Zavascki informou que não iria comentar o assunto.
Ao negar os pedidos de prisão preventiva e de busca e apreensão contra os peemedebistas, Teori apontou que faltavam elementos concretos para provar que os investigados agiram efetivamente, além das conversas, para obstruir as investigações.
OperaçãoA Castelo de Areia apurou um esquema de evasão de divisas, lavagem de dinheiro, crimes financeiros e repasses ilícitos para políticos envolvendo executivos da empreiteira Camargo Corrêa, entre 2009 e 2011. Dentre os nomes que apareceram nas buscas da operação estava o do hoje presidente interino Michel Temer, em uma planilha com os nomes de vários políticos que receberam doações da empreiteira. Em 2011 o STJ decidiu por anular toda a operação, sob o argumento de que ela foi baseada em uma denúncia anônima.
Com as novas descobertas da Lava Jato, que destrinchou o espúrio relacionamento e troca de favores entre as empreiteiras e os principais partidos políticos do País, a força-tarefa da operação chegou a pedir ao Supremo em 2015 que fosse reaberta a Castelo de Areia, mas o pedido foi negado.
DefesasO ex-presidente José Sarney disse em nota ser amigo de Sérgio Machado há muitos anos e afirmou que as conversas que teve com ele foram marcadas pela solidariedade. Segundo ele, muitas vezes procurou dizer palavras que ajudassem a superar as acusações que Machado enfrentava. Sarney disse, ainda, lamentar que conversas privadas tornem-se públicas porque podem ferir outras pessoas.
A assessoria do advogado e ex-ministro do STJ Cesar Asfor Rocha afirmou em nota que "A respeito da transcrição de gravações que teriam sido feitas pelo ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, com alguns políticos, o advogado Cesar Asfor Rocha contesta terminantemente que tenha sido procurado, em qualquer tempo e por qualquer pessoa, para tratar dos assuntos aludidos. Nega, com igual veemência, que tenha conversado sobre o tema com qualquer ministro do Supremo Tribunal Federal ou com qualquer outro Magistrado. Repudia, por fim, as ilações injuriosas precipitadamente extraídas da simples menção a seu nome em conversas de terceiros."
O criminalista Eduardo Ferrão disse que em nenhum momento foi procurado para tratar do assunto mencionado na delação. "E mesmo que o fosse, rejeitaria veementemente solicitação de tal natureza", afirma o advogado.