25/07/2018 22:41:28
Internacional
Brasil se unirá a China e Índia para criticar protecionismo de Trump?
Preocupação com efeitos de barreiras comerciais americanas na economia global deve dominar agenda de 10ª Cúpula dos Brics, na África do Sul
BBC BRASIL/Getty ImagesBrics se encontrarão em sua décima cúpula, onde protecionismo poderá ser tema central
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O avanço de medidas protecionistas que dificultam o comércio internacional deverá ser o tema dominante na reunião de cúpula dos países do grupo Brics - Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul - que começa nesta quinta-feira em Johanesburgo, África do Sul.

Na ponta deste avanço está o governo americano. Ao criar taxas de importação para vários produtos - como aço, alumínio, e bens industriais - o governo do presidente Donald Trump contrariou até parceiros próximos aos EUA, como Canadá e México. Além disso, Trump tem apostado na estratégia de costurar apoios bilaterais em detrimento de acordos entre blocos, multilaterais.

Acredita-se que o presidente chinês, Xi Jinping, e o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, serão os mais empenhados em colocar o tema na mesa e discutir uma resposta do bloco ao chamado isolacionismo americano.

Os EUA são o maior parceiro comercial da China e o maior destino de exportações da Índia.

O ministro de Comércio e Indústria da África do Sul, Rob Davies, disse que nesta quinta-feira que já está em curso uma "guerra comercial".

"Mesmo quem não está diretamente envolvido está sofrendo os efeitos colaterais dessa guerra", afirmou.

Segundo ele, uma das estratégias dos Brics para contrapor a queda do multilateralismo no comércio é ter uma posição conjunta em discussões da Organização Mundial do Comércio (OMC) e tentar propor políticas mais inclusivas nas regras de comércio internacional.

Por enquanto, as indicações são de que o presidente brasileiro, Michel Temer, deve apoiar uma declaração de viés antiprotecionista - mas é pouco provável que esta venha a citar, diretamente, os EUA.

Este será a décimo encontro dos Brics - termo cunhado há 17 anos para reunir os países emergentes mais promissores na época: Brasil, Rússia, Índia e China. A África do Sul foi incluida ao grupo em 2010.

Juntos, os Brics respondem por 22,53% do PIB do planeta e reúnem 42,58% da população mundial.

A primeira reunião do bloco foi em 2009, na Rússia, quando o mundo ainda lidava com a grave crise econômica iniciada em 2008.

A relevância do grupo tem sido questionada pelas diferenças ideológicas entre seus regimes – a China, por exemplo, é comunista –, e os desempenhos diferenciados de suas economias, o que poderia dificultar sua cooperação e dar menos relevância a decisões do grupo.

Brasil e África do Sul estão estagnados e enfrentando crises políticas e a Rússia tem estado em campos opostos aos Estados Unidos e à União Europeia em temas como Crimeia e guerra da Síria - além de ser acusada de ter interferido nas eleições americanas e de estar por trás do envenenamento de um ex-espião duplo no Reino Unido.

"A China está ciente que, se fizer isso, perde totalmente o caráter de coalização e não é interesse deles que os Brics sejam vistos como um grupo de influência da China", diz Abdenur.

O que Temer fará nos Brics

O presidente Michel Temer chega à África do Sul nesta quarta. O Brasil também é afetado pela imposição de taxas de importação pelos EUA e deve engrossar o coro contra o protecionismo.

Os EUA são atualmente o terceiro maior parceiro comercial do Brasil, atrás de China e União Europeia, segundo o Ministério das Relações Exteriores. Um dos setores mais atingidos pelas taxas americanas é a indústria siderúrgica: cerca de 40% do aço brasileiro é exportado para o país.

Temer afirmou nesta semana que tanto sua viagem para a África do Sul quanto ao México - onde esteve antes de viajar a Johanesburgo - têm o objetivo de "empunhar a bandeira do livre comércio e do entendimento".

Uma reunião de representantes do comércio exterior dos Brics na África do Sul, no início do mês, e o encontro de Ministros da Fazenda durante o G20, em Buenos Aires, já pavimentaram o caminho.

Segundo uma fonte do governo, a declaração final da cúpula deve defender o livre mercado e condenar o aumento do protecionismo. É improvável, no entanto, que os EUA sejam citados diretamente.

"Isso poderia gerar uma reação negativa e até desproporcional dos EUA", explica a pesquisadora Adriana Erthal Abdenur.

"Embora as declarações conjuntas sempre façam referência a contextos específicos, faz parte do histórico do grupo não citar países ou políticas individuais no texto", afirma.

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