DivulgaçãoBrasileiros que moram nos EUA estão com medo do governo Trump Todo SegundoDo R7O dia 9 de novembro, com a confirmação da eleição do candidato republicano Donald Trump para a Presidência dos EUA, pode marcar a vida milhares de imigrantes como o início de um processo de retorno forçado ao Brasil. Alvo principal da artilharia de Trump durante a campanha, as comunidades de estrangeiros em diversas cidades ficaram assustadas e com medo do futuro. Confira a história de cinco brasileiros que vivem em cinco cidades grandes dos EUA.
"Estou chocada com a vitória do Trump. mas entendo que, por mais absurdo que ele possa soar, ainda é como a maioria das pessoas pensa por aqui. Grande parte dos americanos conservadores do sul e do interior são xenofóbicas e racistas", disse a estudante paulistana Amanda, 26 anos, que vive em Miami. Ela está aguardando o resultado do pedido de visto para estudar. "Eu entrei como turista e estou mudando o visto então eu não posso sair do país, não estou ilegal mas não tenho um visto", completou.
Para Amanda, a realidade americana não correspondeu exatamente à suas expectativas. "Eu tinha uma ideia errada de que os americanos eram pessoas evoluídas e educadas visto que as melhores faculdades estão aqui. Mas a educação americana é para uma minoria que tem dinheiro, 90% da população se forma no colégio e não vai pra faculdade porque é caríssimo. Eles são muito ignorantes a respeito de política internacional", disse.
— Esse país cresceu com o trabalho dos imigrantes. Inclusive o Donald Trump construiu o império dele contratando centenas de trabalhadores ilegais. Se ele tirar os imigrantes daqui, a economia do país afunda. E ainda não vai sobrar ninguém pra construir o muro [referindo-se a proposta do republicano de construir um muro entre os EUA e o México].
Em 2001, o paranaense Fernando Aguiar, criado até os 19 anos na cidade Buriti, em Rondônia, chegou aos EUA por uma rota de imigração ilegal a partir do México. "Cheguei para viver o sonho americano. Meu primeiro emprego foi na construção civil, como carpinteiro em New Jersey. Em 2004, me mudei para Orlando, na Flórida. Dois anos depois, em 2006, me mudei para New Orleans, na Lousiana, ajudar na reconstrução da cidade após o furacão Katrina", contou.
Já adaptado aos EUA, ele conseguiu abrir uma pequena empresa que bancadas de granito para cozinhas planejadas. Aguiar também é locutor de rádio e popular na comunidade brasileira de New Orleans. "A vitória de Trump me deixa preocupado, assim como a todos os imigrantes. Me sinto desprotegido e com muito medo da imigração. Se estava ruim vai ficar bem pior", disse.
Para o curitibano Jonathan Santiago, 38 anos, que mora há 37 anos em Orlando, na Flórida, e tem cidadania americana, a vitória do Trump se explica pelo perfil do eleitor que ele se esforçou para conquistar. "Não sou a favor do Trump e também não apoiei a Hillary. Acredito que o Trump venceu porque ele foi atrás dos votos de quem não se sentia representado na política: o branco pobre e com baixa escolaridade. Como candidato da elite, o Trump falou a língua dos descontentes que se sentem "roubados". Ele sabia que um discurso racista faria uma boa parte da população branca e de baixa renda aderir à sua campanha", disse. Santiago dá aulas de filosofia e tem muitos amigos na comunidade brasileira de Orlando. "Os brasileiros todos estão com medo de serem deportados. Com a maioria do Congresso, o Trump pode aprovar uma lei muito dura que permita mandar todo mundo embora. Isso dá muito medo", disse.
A engenheira Luciana Powel está nos EUA há 20 anos e tem cidadania. Ela também está apreensiva com as medidas que podem ser adotadas por Trump, moradora em Dallas, no Texas, ela não votou no candidato eleito. "Votei em Hillary por achar que era melhor que o Trump. Não me senti a vontade em votar em alguém que tem ideais racistas e separatistas. Depois que ele ganhou estou ainda digerindo tudo. Um pouco de perplexidade melhor falando. Os meus amigos brasileiros que vivem aqui estão do mesmo jeito. Porém, vivemos numa democracia e temos que aceitar o desejo da maioria. O sentimento agora é torcer para tudo o que pensamos sobre ele esteja errado e que ele faça um bom governo".
A babá Eugênia (nome fictício) mora há 15 anos em Chicago com o marido. Quando chegaram ao país, eles conseguiram tirar alguns documentos, menos o social security, que é obrigatório para poder trabalhar legalmente. Mas com o ID, documento de identificação que os dois têm, eles conseguem viajar por dentro do País, abrir conta em banco, fazer financiamentos, etc.
"Levamos uma vida normal aqui, mas sem poder sair dos Estados Unidos. Nossos familiares vêm nos visitar, mas nossa esperança na vitória da Hillary era de que ela poderia regularizar o status de milhões de pessoas que estão na mesma situação que nós. Isso nos permitiria depois de tantos anos poder visitar o Brasil e outros países também. Mas agora, com o Trump, a esperança de virarmos cidadãos americanos vai por água abaixo. Trabalhamos aqui, pagamos imposto de renda. Quando falam ilegal, dá a ideia de clandestinidade, mas não é", disse.