A Igreja Católica anunciou nesta quinta-feira(31) que não retomará o Diálogo Nacional visando restabelecer a paz na Nicarágua, enquanto o governo continuar reprimindo manifestações pacíficas.
Pelo menos onze pessoas morreram ontem (30), na Nicarágua, quando realizavam marchas de solidariedade às mães que perderam seus filhos nos protestos.
As manifestações - que começaram no dia 18 de abril para rejeitar a reforma da Previdência - se transformaram num movimento nacional, pedindo a saída do presidente Daniel Ortega, da Nicarágua.
Os manifestantes dizem que foram atacados pelas forças de segurança e grupos paramilitares, que apoiam o atual governo. Ontem, foi Dia das Mães na Nicarágua. Mas, este ano as comemorações foram substituídas por marchas, contra e a favor do governo.
Violência é condenada
A Conferência Episcopal da Nicarágua, que a pedido do governo estava mediando o diálogo pela paz, disse que vivia "com profunda dor os acontecimentos violentos perpetrados na noite de ontem (30) por grupos armados simpatizantes do governo e contra a população civil". No comunicado, os bispos disseram que condenam "energicamente todos esses fatos violentos".
Os distúrbios – os mais violentos desde o fim da guerra civil em 1990 – começaram em abril, com manifestações contra a reforma da Previdência, que o governo acabou revogando. Mas, diante da violenta reação das forças de segurança e de grupos paramilitares, os protestos se transformaram num movimento nacional que – com o apoio da Igreja Católica - exige a antecipação de eleições presidenciais.
No Dia das Mães, o movimento Mães de Abril, uma organização que pede justiça pelos filhos mortos nas manifestações, convocou uma marcha. Muitas das vítimas da violência são estudantes universitários, que ontem denunciaram a repressão ao protesto.
Agressões
O governo realizou seu próprio ato em homenagem às mães, pedindo o fim da violência e denunciando agressões a seus simpatizantes.
“O ódio está tentando destruir um país, que vivia em paz e era admirado no mundo pela sua capacidade de reconciliação”, disse o presidente Daniel Ortega. “A Nicarágua viveu praticamente em luto desde os anos de 1960 até 1990, quando conseguimos o acordo de paz”.
Ortega se referia à Revolução Sandinista que ele liderou em 1979, contra décadas de ditadura da família Somoza. Mas o ex-guerrilheiro de esquerda está sendo acusado pelos opositores, e também por seus ex-aliados, de querer instalar na Nicarágua uma dinastia política, parecida com a que ele combateu. Em 2016, Ortega foi reeleito para um terceiro mandato presidencial consecutivo – desta vez com a mulher, Rosário Murtillo, como vice-presidente.
O presidente pediu a mediação da Igreja Católica para acabar com a violência, mas não aceitou as recomendações da Conferência Episcopal. Os bispos pediram a antecipação das eleições, o fim da repressão e a dissolução dos grupos paramilitares.
Relatório da organização não governamental Anistia Internacional, denominado “Atirar para Matar”, acusa a policia e os paramilitares de usarem armas de fogo na repressão aos protestos.
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