Derrotado nasurnas neste domingo, o senador Aécio Neves (PSDB) precisa agora reconquistar sua liderança em Minas Gerais, e pode se manter como possibilidade para 2018, de acordo com especialistas.
“Aécio se mostrou ao longo dos anos uma excelente liderança regional. Acho que a tendência seria ele voltar para Minas Gerais, mantendo um pé no cenário nacional”, afirma o cientista político José Augusto Guilhon Albuquerque.
O senador viu sua influência entre os mineiros diminuir nessas eleições. Seu candidato ao governo do estado, Pimenta da Veiga (PSDB), foi derrotado pelo petista Fernando Pimentel ainda no primeiro turno.
Na corrida presidencial, Dilma Rousseff (PT) também recebeu mais votos que Aécio em Minas Gerais no primeiro turno (41,59% a 33,55%) e no segundo turno (52,4% contra 47,6%).
Sobre a próxima disputa para a presidência, o cientista político Albuquerque diz que ainda é cedo para saber se o mineiro continua como candidato: “Ele poderia ser o candidato do PSDB em 2018, mas será que ele vai querer?”, questiona.
Para o cientista político Humberto Dantas, o nome do PSDB para 2018 depende ainda das estratégias do partido. “O PSDB pensa de forma muito pragmática o nome do candidato à presidência. Não existe uma insistência num nome específico, como existiu no PT com o Lula”, afirma.
Ele explica: “Os tucanos colocam no cálculo a manutenção de pontos estratégicos, como o governo do estado de São Paulo”.
Campanha
Aécio foi o tucano que mais deu trabalho para o PT nas últimas eleições, protagonizando uma das mais disputadas campanhas presidenciais desde a redemocratização.
A derrota é o segundo revés do candidato em toda a sua carreira política, que completa 35 anos. Em 1992, Aécio foi vencido na campanha pela prefeitura de Belo Horizonte. Naquele ano, a cidade elegeu o petista Patrus Ananias.
A campanha de 2014 era a mais favorável para a oposição em anos, o que explica a vitória apertada dos petistas. A boa votação recebida pelo PSDB é explicada em parte pelo mau momento do partido do governo: o país vive uma situação econômica adversa e a presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição, não tinha a força eleitoral de Lula, seu padrinho e antecessor.
No entanto, o cenário não foi suficiente para garantir a maioria dos votos a Aécio Neves. A última semana antes do pleito mostrou uma virada nas intenções de voto, com Dilma Rousseff aparecendo em primeiro lugar, ainda que no limite da margem de erro.
A principal bandeira tucana durante a campanha foi o resgate da economia. Aécio criticou reiteradamente a política econômica atual e prometeu garantir o tripé macroeconômico (inflação no centro da meta, superávit primário e câmbio flutuante). Com isso, pretendia resgatar a confiança dos investidores.
Na campanha, o tucano também fez questão de reforçar que, caso fosse eleito, não acabaria com os programas sociais que marcaram os governos petistas, como o Bolsa Família.
Trajetória
Neto do ex-presidente Tancredo Neves, e filho do ex-deputado federal Aécio Ferreira Cunha, o mineiro Aécio Neves iniciou sua vida política aos 19 anos.
Aécio cuidava da agenda do pai, então deputado federal pelo PDS (ex-Arena). Alguns anos depois, o jovem político tornou-se secretário particular do avô, então governador de Minas Gerais pelo PMDB.
Eram os anos 1980, e o Brasil estava em meio às mobilizações populares pelas Diretas Já. Em 1984, Aécio participou do movimento e passou a atuar na campanha de Tancredo para a presidência da República.
Eleito de forma indireta, o avô de Aécio nunca chegou a exercer o cargo – Tancredo adoeceu e foi operado um dia antes de ser empossado presidente, em março de 1985. Tancredo morreu no mês seguinte e o vice-presidente José Sarney assumiu o cargo máximo da política brasileira.
Agora a família Neves perdeu mais uma chance de subir a rampa do Palácio do Planalto.
Nos quase 30 anos desde a morte do avô, Aécio exerceu diversos cargos públicos. Em 1985, foi nomeado diretor da Caixa Econômica Federal, aos 25 anos.
No ano seguinte, deu início a uma longa estadia no Congresso Nacional, onde esteve como deputado federal por Minas Gerais durante quatro mandatos (de 1986 a 2002).
Como deputado, Aécio atuou na elaboração da Constituição de 1988, foi líder do PSDB (partido ao qual se filiou em 1989) e presidente da Câmara.
Em 2002, seguindo os passos do avô Tancredo, o tucano foi eleito governador de Minas Gerais, cargo para o qual foi reeleito em 2006.
Seu governo em Minas foi marcado pelo chamado Choque de Gestão, marcado pelo corte nos gastos públicos e no enxugamento do Estado.
Em 2010, com mais de 90% de aprovação, Aécio conseguiu eleger seu sucessor no governo de Minas, Antônio Anastasia. No mesmo ano, foi eleito senador pelo estado. Em 2013, foi eleito presidente do PSDB, após a morte de Sérgio Guerra.
Ataques
Ao mesmo tempo em que ostenta a fama de bom gestor, sustentada por sua taxa de aprovação em Minas Gerais, Aécio também tem seus fantasmas.
Como governador, o tucano construiu um aeroporto numa área que pertenceu a seu tio-avô, no município de Cláudio (MG). O local é alvo de investigação da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) porque estaria em funcionamento sem autorização.
Durante a campanha para presidente, o tucano viu ainda renascerem das cinzas episódios como o de quando ele se recusou a assoprar o bafômetro.
Aécio foi parado por uma blitz da Lei Seca em 2011, no Leblon, bairro nobre do Rio de Janeiro, e se recusou a fazer o teste. O senador estava com a carteira de habilitação vencida.
Outro tema que ganhou sobrevida durante a campanha foi a suspeita de que o tucano teria agredido sua atual mulher, Letícia Weber, durante uma festa em 2009. O caso foi noticiado pelo jornalista Juca Kfouri. Aécio negou a agressão.
Vida pessoal
Aécio Neves nasceu em Belo Horizonte em 10 de março de 1960. Filho de Aécio Cunha e Inês Maria, ele faz parte de uma família de políticos tradicionais do estado.
Aos dez anos, Aécio mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, quando seu pai foi eleito deputado federal. Voltou para Belo Horizonte na juventude e formou-se em economia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas).
Aécio Neves tem três filhos. A mais velha, Gabriela Falcão Neves, de 23 anos, do casamento com a advogada Andrea Falcão. A jovem se envolveu na campanha do pai à presidência.
Os caçulas são os gêmeos Bernardo e Julia, de quatro meses, que nasceram quando Aécio já era pré-candidato à presidência. Os bebês são filhos do tucano com sua mulher, Letícia Weber.
Mais de Eleições.
Do Exame
E-mail: [email protected]
Telefone: 3420-1621