17/07/2015 21:51:21
Política
Collor nega, mas Porsche apreendido pela PF pode não ter dono
Carro está em nome de posto de combustível localizado na periferia de Maceió, comprado pela família Jatobá
Reprodução/TV GloboCollor nega, mas Porsche apreendido pela PF pode não ter dono
Todo SegundoO Globo

O Porsche apreendido na terça-feira, (14), na casa do senador Fernando Collor (PTB-AL), durante um desdobramento da Operação Lava-Jato é hoje um carro “sem dono”. No sistema do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), o veículo aparece como propriedade do posto de gasolina Jatobá Comércio de Combustíveis, cujo nome fantasia é Posto Top. O estabelecimento era de Bruno Cesar Jatobá e Gabriel de Andrade Jatobá Neto. Mas, de acordo com documento da Junta Comercial obtido pelo GLOBO, os dois passaram a empresa para as mãos de Zaquiel dos Santos Silva e de José Isaquiel Idalino no último dia 10 de junho.

Na quinta-feira, (16), O GLOBO foi ao posto de gasolina, no bairro de Jacintinho, periferia de Maceió, e encontrou Fábio Jatobá, ex-prefeito da cidade de Roteiro (eleito pelo PSDB em 2008). Irmão de Bruno e Gabriel, os antigos donos do posto, Fábio se apresentou como um dos donos do estabelecimento. A família Jatobá é aliada antiga de Collor. Fábio diz ter comprado o posto de um homem chamado Luiz Gustavo Malta Araújo.

— Isso tem me dado uma dor de cabeça... — disse Fábio, ao ser perguntado sobre o Porsche. — Meu pai comprou este posto do Gustavo Malta. Pode ver que ainda chega correspondência no nome dele — completou Fábio, mostrando cartas em nome do ex-dono.

O GLOBO não conseguiu localizar Gustavo Malta. Apesar de ter o mesmo sobrenome da ex-mulher de Collor, Rosane, não foi possível apurar se há ligação entre ele e a família de Collor. Segundo Fábio, quando a família comprou o estabelecimento, em 2013, o Porsche já era da GM Comércio de Combustíveis, antigo nome do posto Jatobá Comércio de Combustíveis. De fato, segundo o sistema do Denatran, o veículo foi adquirido em 2011 pela GM. O posto mudou de nome, mas o CNPJ continua o mesmo.

— Quando comprei, já sabia que o carro era da GM. Imagine comprar um posto e ganhar um carro daquele? Era arretado, era massa. Ele (Gustavo Malta) mesmo pediu que o carro ficasse de fora. Assumi os ônus e os bônus. Tive problema com o INSS. O carro era para passar para o Gustavo Malta — disse Fábio.

Como Collor, Fábio também já teve a casa devassada por agentes da Polícia Federal em busca de documentos. Foi em 2007, quando ele foi indiciado pela Polícia Federal por integrar um esquema que desviou R$ 300 milhões da folha de pagamento da Assembleia Legislativa de Alagoas.

Embora Fábio tenha se apresentado como dono do posto, para a Junta Comercial, o estabelecimento é de propriedade de Zaquiel e José Isaquiel há um mês. No documento, o endereço que consta como sendo de Zaquiel fica em Coruripe, cidade que fica a cerca de uma hora e meia de Maceió. Já a casa de José Isaquiel fica em Igreja Nova, um município no sertão alagoano.

Zaquiel, que anteontem havia dito ao GLOBO que arrendou o posto há 30 dias, não atendeu às ligações. A reportagem não conseguiu contato com José Isaquiel, Bruno e Gabriel Jatobá.

O GLOBO foi a uma das empresas de Gustavo Malta, a Vies Araújo Factoring. Funcionários disseram que Gustavo Malta está viajando e só volta na semana que vem.

Além do Porsche, a PF apreendeu na casa de Collor um Lamborghini e uma Ferrari, propriedades Água Branca Participações, da qual o ex-presidente é sócio. A revista “Época” publicou ontem que a empresa é usada pelo senador para comprar carros luxuosos.

A revista teve acesso ao relatório da Procuradoria Geral da República que diz: “Conforme informação policial de campo, no endereço cadastrado como sede da Água Branca funcionam outras empresas. Trata-se, provavelmente, portanto, de ‘pessoa jurídica de fachada’, usada especificamente para lavagem de dinheiro”, afirma o relatório.

Segundo a “Época”, a Água Branca, apesar de não existir, recebeu em 2013 R$ 930 mil de uma empresa fantasma, a Phisical Comércio, abastecida pelo doleiro Alberto Youssef.

 No dia da ação da PF, Collor foi à tribuna do Senado dizer que os bens retirados de sua propriedade durante a Operação Politeia foram “legalmente declarados e adquiridos antes do suposto cometimento dos pretensos crimes”. O senador repetiu uma série de ataques ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, a quem acusou de ter orquestrado a invasão de suas propriedades para levar os carros pelas ruas de Brasília até a sede da PF.

Hoje, um Lamborghini custa R$ 3,8 milhões. Os últimos exemplares zero-quilômetro da Ferrari disponíveis no Brasil foram vendidos por R$ 1,9 milhão. E um Porsche zero-quilômetro, hoje, sai por R$ 693 mil. Os três carros juntos totalizariam R$ 6,3 milhões.

E-mail: [email protected]
Telefone: 3420-1621

Todo Segundo - O maior portal de notícias do Agreste e Sertão de Alagoas.. ©2024. Todos os direitos reservados.