20/05/2017 07:02:43
Política
Delação calou Renan, após advogado não conseguir calar a JBS
Segungo Janot, atuação do advogado ligado a Renan teria ocorrido por meio de contato com o dono da JBS
DivulgaçãoDelação calou Renan, após advogado não conseguir calar a JBS
Todo SegundoO silêncio do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), após as revelações das delações do dono da JBS, Joesley Batista, começa a fazer sentido, a partir do relato feito pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo o chefe do Ministério Público Federal (MPF), o advogado Willer Tomaz atuou “possivelmente” em benefício de Renan e do senador Romero Jucá (PMDB-RR), para impedir o processo de delação premiada de Joesley.

Segungo Janot, a atuação do advogado ligado a Renan e Jucá teria ocorrido por meio de contato com o dono da JBS, com reclamações sobre as tratativas de sua colaboração premiada. Desde a noite de quarta-feira (17), quando foi revelada a notícia que resultou na abertura de inquérito contra o presidente Michel Temer (PMDB), Renan Calheiros não se manifestou nas redes sociais sobre o caso que envolve o líder de seu partido.

“O advogado Willer Tomaz, com possível ajuda do procurador da República, Ângelo Goulart Vilella, estava tentando atrapalhar o processo de colaboração premiada ora em curso, com o escopo, possivelmente de proteger amigos políticos integrantes do PMDB”, destaca Janot no pedido de abertura de inquérito.

Citando um depoimento inicial de Joesley, que buscava uma colaboração “voluntária”, Rodrigo Janot destacou que os senadores se afastaram do empresário, quando souberam da possibilidade de delação. “Joesley Mendonça Batista menciona, por exemplo, que percebeu um afastamento de Renan Calheiros e Romero Jucá quando surgiram notícias de que uma colaboração estava em curso, período que coincide com o contato do advogado Willer Tomaz reclamando acerca de possíveis tratativas de colaboração”, relatou o procurador.

Ainda segundo Janot, Renan e Jucá se reaproximaram de Joesley depois de uma "contrainformação" de que não haveria delação premiada combinada com membros do Ministério Público Federal.

OBSTRUÇÃO

O relato de Rodrigo Janot a Fachin integra o pedido de abertura de inquérito no STF de Joesley, do procurador da República Ângelo Goulart Vilella e do advogado Willer Tomaz por suposta tentativa de obstruir os trabalhos da Justiça. A Lei da Organização Criminosa, de 2013, citada pelo procurador, prevê pena de três a oito anos de prisão. O procurador também pede investigação contra os envolvidos por corrupção ativa e passiva, crimes com pena previstas pelo Código Penal de dois a 12 anos de reclusão.

O procurador justificou o pedido de abertura de inquérito de Joesley, do procurador e do advogado no STF pelo fato de os senadores do PMDB, citados pelo dono da JBS, terem foro privilegiado. Janot pondera que não há, ainda, elementos para pedir uma abertura de inquérito contra Renan e Jucá, mas que esse "caminho" já está sendo "vislumbrado".

Rodrigo Janot relatou a Fachin que Joesley, nas conversas iniciais de delação, disse ter contratado o advogado Willer Tomaz por "serviços" a seu favor no âmbito da Operação Greenfield, que investiga desde o ano passado esquema de corrupção na área de fundos de pensão. Tomaz, segundo Janot, receberia de Joesley R$ 8 milhões pelo arquivamento do inquérito contra o empresário e ficou responsável de pagamentos de "ajuda de custo" de R$ 50 mil por mês ao procurador Ângelo Goulart Vilella. Joesley, de acordo com Janot, disse que recebeu de Tomaz documentos de "acesso restrito".

Janot também ressalta que compete ao STF investigar outras duas autoridades citadas nas conversas iniciais do advogado, o presidente Michel Temer e o senador Aécio Neves (PSDB-MG). O pedido de abertura de inquérito inclui dois áudios repassados por Joesley de conversas com Temer, no Palácio do Jaburu, e com Aécio, num hotel em São Paulo.

Diário do Poder com (AE)

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