As eleições municipais marcadas para o próximo domingo fizeram com que voltasse a crescer em alta velocidade nas redes sociais postagem com informações falsas e que põe em dúvida o sistema eleitoral brasileiro, que terminam por receber mais atenção do que informações verdadeiras, mostrou um estudo do Laboratório de Democracia Digital da FGV (Fundação Getúlio Vargas).
O levantamento, divulgado na quinta-feira (12), acompanha posts publicados no Facebook e no YouTube nos últimos sete anos e mostra que houve um aumento exponencial de postagens com notícias falsas em 2018, enquanto 2020, com a proximidade das eleições municipais, já é o segundo com maior conteúdo publicado.
Apenas em nove meses de 2020, chegou a 17.958 o número de links no Facebook para conteúdos falsos tratando do processo eleitoral - a maioria levantando dúvidas sobre fraudes ou confiabilidade das urnas eletrônicas -, com cerca de 1,5 milhão de engajamentos, como curtidas, comentários e compartilhamentos. No YouTube foram 387 vídeos com cerca de 1,8 milhões de visualizações.
O estudo ressalta que 2018 foi o ano em que as postagens e as interações com as fake news atingiu seu auge no país, chegando a 32 mil posts no Facebook e 534 no YouTube, em ambos os casos com os milhões de interações, e que boa parte dessas postagens voltou a circular agora.
O link mais compartilhado em 2018 também é o campeão agora 2020: uma postagem em um site já investigado por notícias falsas afirmava que o Tribunal Superior Eleitoral teria entregue a uma empresa venezuelana os códigos das urnas eletrônicas brasileiras.
Em seguida vem material do mesmo site que trata da denúncia de fraude feita pelo próprio presidente Jair Bolsonaro --que em março deste ano, durante visita a Miami, disse ter provas de que teria vencido a eleição de 2018 no primeiro turno, mas até hoje se negou a apresentar o material-- associada a um suposto incêndio misterioso que teria queimado urnas eletrônicas na Venezuela. O terceiro mais compartilhado também trata das supostas provas do presidente.
“Observa-se que os três links mais compartilhados são, na verdade, publicações antigas, com forte presença nas redes ao menos desde 2018”, diz o estudo. “Os links antigos, no entanto, também foram acompanhados por seis matérias que tiveram a primeira publicação em 2020. O número de links inéditos, somado ao aumento geral de compartilhamentos sobre o assunto, sugere uma característica de campanha intencional no agendamento desse tema.”
Dos 15 links sobre o processo eleitoral mais compartilhados dos últimos sete anos, seis - inclusive as duas primeiras - tem informações falsas ou altamente distorcidas, cinco relatam ações tomadas por pessoas ou grupos que levantam desconfiança sobre as urnas eletrônicas ou o processo eleitoral, e o restante trata de informações verdadeiras, publicadas por veículos regulares, mas também sobre problemas relacionados às urnas ou às eleições.
“Os dados analisados validam a afirmação de que as narrativas de desconfiança no sistema eleitoral, nesse período, estão associadas a um maior engajamento e recorrência em ambientes digitais”, conclui o estudo. “Dessa maneira, foi possível observar uma ampla circulação de conteúdos perigosos, hiperpartidarizados e fake news no corpus examinado, que sugerem padrões de polarização, intolerância e desinformação na história recente do país.”
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