O senador Renan Calheiros (MDB-AL) procurou o empresário Joesley Batista, dono da JBS, em 2014, para discutir uma nomeação para o Ministério da Agricultura. De acordo com as interceptações telefônicas feitas pela Polícia Federal, divulgadas nesta quinta-feira (31) pelo jornal Folha de S.Paulo , o presidente do Senado teria procurado o empresário logo após a reeleição da então presidente Dilma Rousseff (PT).
Segundo o jornal, o alvo das interceptações telefônicas era o diretor de relações institucionais da JBS, Ricardo Saud, responsável pela intermediação da empresa com o Congresso. Em um dos telefonemas, Renan Calheiros e Joesley comemoram juntos a vitória de Dilma nas eleições de 2014. A ligação foi feita às 20h08m38s. Entre “parabéns” e comentários sobre uma vitória “sofrida”, emedebista e empresário combinam de se encontrar para “pensar os próximos passos”.
As interceptações telefônicas apontam que dois dias depois um jantar foi marcado na casa de Renan e realizado na semana seguinte, em 5 de novembro. Já no dia 12 de dezembro de 2014, o então presidente do Senado procura Joesley, para discutir quem seria o titular da Agricultura no segundo governo de Dilma. A petista já tinha escolhido Kátia Abreu, que não era o nome preferido do empresário. Em uma ligação na noite daquele dia, Renan pede a Saud um encontro com Joesley.
"Deixa eu te dizer uma coisa, era importante a gente bater um papo com o Joesley", diz o senador. "Para a gente conversar um pouco sobre essa questão aí da Agricultura", reforça Renan. Minutos depois, Saud retorna para confirmar a reunião e o senador então afirma: “Tem um cenário que estou construindo, de levar o Vinicius [Lages], que é ministro do Turismo, para ser o secretário executivo [do Ministério da Agricultura ]. Então, acho que era importante a gente conversar um pouco sobre algumas estratégias”, diz Renan na conversa divulgada pela Folha de S.Paulo.
Ao fim da ligação, o emedebista marca um jantar para a segunda-feira seguinte, em Brasília, e Saud ainda acrescenta ao senador: "Eu levo o vinho". No mesmo diálogo, Renan lembra que haveria, dias depois, uma posse na CNA (Confederação Nacional da Agricultura).
Ex-chefe de gabinete de Renan e indicado pelo emedebista para ser ministro do Turismo no primeiro governo Dilma, Vinicius Lage acabou continuando no comando da pasta de Turismo no segundo governo da petista. Quatro dias após a conversa entre o senador e Saud, no dia 16 de dezembro, Kátia Abreu tomou posse como presidente da entidade.
O senador foi delatado pela JBS sob acusação de caixa 2 de R$ 9 milhões em 2014. Os delatores afirmaram ainda ao Ministério Público que houve pagamento de R$ 46 milhões a senadores do MDB a pedido do PT. Segunda a Folha , em outras ligações, Saud aparece falando com aliados de Ranan e afirma que os negócios com o senador “vão bem”.
Após a divulgação da matéria pela Folha, o emedebista afirmou que não cometru nenhum crime. "Não há nenhuma gravação minha em nenhum lugar que me incrimine ou seja desfavorável ao interesse do Brasil", declarou o senador ao chegar para a reunião da bancada do MDB , em Brasília.
Renan Calheiros disse ainda que "as pessoas tensionam porque não o conhecem" e que "sempre teve uma participação na formatação do país do ponto de vista institucional". "Nunca cometi mal feito", afirmou o parlamentar.
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