Pequeno no tamanho e bastante parecido com outras espécies. O trabalho de identificar sapos ainda em sua fase de larva, mais conhecida como girino, não é uma tarefa fácil. Na Universidade Federal de Alagoas (UFAL) pesquisadores vêm utilizando o DNA [código genético] de sapos adultos para encontrar os semelhantes ou, até mesmo, novas espécies, ainda quando são girinos.
“Identificar um girino apenas olhando sua morfologia não é simples. Os girinos são aquáticos e, em geral, comem pequenas algas que se desenvolvem nas poças d’água. Um dos principais desafios para estudar esses animais é identificar a espécie que ele pertence, devido, principalmente, ao seu tamanho reduzido e à semelhança morfológica entre as diferentes espécies. Devido a isso, os girinos ainda são pouco conhecidos quando comparado com sua fase adulta - sapos, rãs e pererecas”, explicou Marcos Dubeux, responsável por conduzir o estudo. Formado pela Ufal, atualmente, ele é pesquisador vinculado ao Laboratório de Biologia Integrativa do Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde (ICBS) e ao Museu de História Natural (MHN) da Universidade.
Ao explicar o método utilizado na identificação, ele conta que “a abordagem compara um pedaço de DNA do girino com a de um adulto já identificado e, pela semelhança ou diferença desse fragmento de DNA entre os dois, consegue associar o girino ao adulto e assim confirmar sua identidade”.
Dubeux ainda esclarece que o método é semelhante a um código de barras como o do conhecido boleto. “Por meio de uma sequência de barras pretas, conseguimos saber a identificação de um produto ou boleto. Similar ao método utilizado nesse trabalho, mas, no lugar das barras pretas, temos as moléculas que compõem o DNA. Cada espécie apresenta uma sequência única, compartilhada apenas pelos indivíduos da mesma espécie. Se um girino apresenta a sequência igual à do adulto, sabemos que os dois pertencem a mesma espécie”, justificou.
Segundo o pesquisador, utilizar fragmentos de DNA para identificar espécies por meio de semelhança ou diferença já é amplamente utilizado em plantas, peixes e até mesmo anfíbios em várias partes do mundo. “No entanto, para identificar girinos neotropicais essa abordagem só foi empregada na Bolívia, sendo o nosso estudo o primeiro em larga escala, utilizando várias espécies de girinos brasileiros”, destacou.
Além de possibilitar uma identificação rápida e confiável da identidade dos girinos, Dubeux afirma que o estudo pode servir como ponto de partida para identificar novas espécies, e que esse foi um outro resultado interessante que a equipe encontrou. “De fato, o número de espécies de sapos que conhecemos para o estado de Alagoas ainda é subestimado e novas espécies devem ser descritas nos anos futuros”, declarou.
Conhecer novas espécies, estudar e preservar as já conhecidas. De acordo com o pesquisador, a pesquisa vem permitindo ampliar os conhecimentos sobre os girinos e monitorar indicadores relevantes relacionados a impactos ambientais.
“Esse trabalho auxilia pesquisadores em um dos principais limitantes para a realização de estudos com essa fase da vida dos sapos: a identificação da espécie. Esperamos que essas perspectivas sirvam de incentivo para a ampliação do conhecimento dos girinos no estado de Alagoas e no Brasil como um todo, não apenas para pesquisas científicas, mas também no potencial para complementar inventários de fauna, monitoramentos de impacto ambiental e no desenvolvimento de políticas públicas de conservação”, projetou.
Estudo publicado em artigo
Os estudos voltados para identificação de girinos de Dubeux foram realizados ainda durante a graduação em Ciências Biológicas pela Ufal e são resultado da participação dele nas atividades de iniciação científica. Atualmente, ele cursa doutorado em Biologia Animal na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
A pesquisa realizada deu origem ao artigo Código de barras de DNA em girinos Neotropicais: avaliação do gene 16S rRNA para a identificação de larvas de anuros no Nordeste do Brasil, publicado na revista científica da Argentina, Cuadernos de Herpetología, referência na publicação de trabalhos relacionados a anfíbios e répteis.
Além de Dubeux, Filipe Nascimento, técnico do MHN da UFAL, Larissa Correia e Tamí Mott, docente do ICBS, assinam o artigo que está disponível aqui.
“Neste artigo, utilizamos um fragmento de DNA como um tipo de código de barras [DNA Barcode] para alcançar a identificação das diferentes espécies de sapos ainda enquanto girinos. Esse trabalho, pioneiro no Brasil em larga escala, integra essa abordagem molecular para acelerar e refinar essas identificações, utilizando as espécies de Alagoas como modelos. Os resultados foram muito promissores e com toda a certeza serão utilizados como metodologia complementar em estudos por todo o mundo”, afirmou Dubeux.
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