A Rádio Câmara apresentou uma série especial de cinco reportagens sobre a vitamina D. Vários estudos nacionais e internacionais comprovam que existe carência da substância na maior parte da população do Brasil. A série explica como suprir a falta da vitamina D e traz divergências na classe médica sobre as doses que devem ser prescritas aos pacientes, e saber quais doenças podem ser causadas pela deficiência da substância.
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A deficiência de Vitamina D no organismo das pessoas já é uma pandemia, ou seja, uma epidemia disseminada em vários países. E a forma de curar essa deficiência é relativamente simples, principalmente no Brasil: a maior fonte da Vitamina D é o sol. Tomar sol é necessário para o corpo sintetizar a vitamina.
Apesar de ter esse nome, a Vitamina D, na verdade, é considerada um hormônio, de acordo com as últimas publicações científicas. A presença da substância foi percebida no óleo de fígado de bacalhau no início do século passado.
Esclerose múltipla e lúpus
O neurologista Cícero Coimbra, professor da Universidade Federal de São Paulo, Unifesp, afirma que baixos níveis dessa substância favorecem o surgimento de doenças como câncer, hipertensão, diabetes, derrames, distúrbios psiquiátricos e doenças autoimunes, que ocorrem quando o sistema imunológico da própria pessoa ataca e destrói os tecidos saudáveis do corpo. É o caso da esclerose múltipla e do lupus.
Além disso, sem vitamina D suficiente, o corpo não pode absorver cálcio de maneira adequada, o que, entre outros problemas, impede que as pessoas tenham ossos saudáveis e fortes.
Desde 2002, Cícero Coimbra já tratou de aproximadamente 1.400 pessoas com esclerose múltipla usando a substância. Ele afirma que a falta de Vitamina D é um grande problema de saúde pública. O neurologista explica que ela controla aproximadamente 10% das funções das células do corpo:
"O reconhecimento das doenças que estão ligadas a essa deficiência está sendo cada vez maior à medida em que os anos passam. Hoje, nós sabemos que os níveis baixos de Vitamina D favorecem doenças como hipertensão, diabetes, doença cardiovacular - como infarto, angina, AVC. Sabemos que gestantes que têm níveis baixos de Vitamina D podem dar à luz, mais facilmente, a crianças autistas. Sabemos que níveis baixos de Vitamina D estão associados com o surgimento de esquizofrenia na adolescência e diversos outros distúrbios psiquiátricos. O mais importante de todos, o mais comum, é a depressão, mas também tem o distúrbio bipolar."
Insuficiência de vitamina D
Apesar de a maior fonte da vitamina D ser a absorção dos raios do sol pelo organismo, muitas vezes é necessário que a substância seja administrada de outras formas - por meio de comprimidos, por exemplo. A insuficiência ou suficiência da Vitamina D no corpo é verificada por meio de exame de sangue e a suplementação por meio de medicamentos deve ser acompanhada por um médico.
As peles claras absorvem a Vitamina D com mais facilidade. Quanto mais escura a pele, mais tempo de exposição ao sol a pessoa deve ter para metabolizar a substância. Inclusive, existe uma teoria segundo a qual a cor da pele de determinados grupos de pessoas mudou justamente por causa da necessidade de absorção da Vitamina D.
Há mais de 30 mil anos, através de mutação genética, a pele do homem foi ficando mais clara a partir do momento em que saiu da África, onde a incidência do sol é maior, para outras regiões mais distantes da linha do Equador, como a Europa, onde a incidência é menor.
A bióloga molecular e professora do Laboratório de Genética Bioquímica da Universidade Federal de Minas Gerais, Andrea Mara Macedo, explica que primeiro, o Homo, que viveu antes do Homo Sapiens na África, perdeu os pelos. Os indíviduos de pele escura, que os protegia da grande radição solar na região, foram se reproduzindo mais, pois os de pele clara não resistiam tanto: sofriam queimaduras e tinham câncer.
A vitamina D e a cor da pele
À medida em que o Homo Sapiens foi se deslocando para a Europa e outros lugares onde havia menor radiação solar, as mulheres que tinham pele escura, ou seja, mais melanina, se reproduziam menos, porque absorviam menos Vitamina D. Por outro lado, as mulheres mais claras se reproduziam mais. É o que explica Adrea Mara Macedo, em relação aos grupos que foram da África para a Europa:
"À medida em que apareceu esse indivíduo de pele mais clara, nesse novo ambiente, ele era mais favorecido em relação àquele de pele escura. Nesse novo ambiente, ter menos melanina significava absorver mais luz ultravioleta, que era pouca, produzir mais Vitamina D3 e, com isso, principalmente, mulheres com Vitamina D são mais férteis. E, portanto, foi tornando a pele mais clara, foram sendo selecionados. A mutação não ocorreu porque migrou. A mutação ocorreu porque, neste novo ambiente, os indivíduos de pele mais clara foram deixando mais descendentes. É exatamente o contrário que acontecia na África."
Hoje, quando se observa a população europeia, pode-se verificar que, no sul da Itália, as pessoas são mais morenas. À medida em que se vai dirigindo aos países mais ao norte, percebe-se que as pessoas têm a pele mais clara. Na Escandinávia, por exemplo, a maioria das pessoas são loiras, de olhos claros.
A guerra civil na Somália, país da África - que teve início em 1991 -, também ajudou os pesquisadores a descobrirem mais sobre a relação entre cor de pele, a falta de Vitamina D no organismo e o autismo.
Autismo e a vitamina D
Autismo é um termo geral usado para descrever um grupo de transtornos de desenvolvimento do cérebro. O autista, geralmente, tem dificuldade de se relacionar socialmente. O transtorno também afeta a capacidade de comunicação da pessoa, o comportamento e, muitas vezes, vem acompanhado de deficiência intelectual. O neurologista Cícero Coimbra fala sobre as conclusões a que médicos chegaram sobre a Vitamina D a partir dos refugiadas da Somália que foram para o norte da Europa:
"Milhares de pessoas fugiram da Somália no ínicio da década de 90. Foram aceitas como refugiados em países como a Suécia, foram viver em Estocolmo. Poucos anos depois, na comunidade somali de Estocolmo, houve uma epidemia de crianças com autismo. A única coisa que os médicos suecos encontraram nessas crianças foi níveis muitos baixos de Vitamina D. Então, devido à pele escura, elas não conseguiam absorver a radiação solar rarefeita e tinham níveis muito mais sérios de hipovitaminose D do que a população sueca, que tinha uma pele clara, adaptada a viver em áreas distantes do Equador."
Cícero Coimbra afirma que, no Brasil, estima-se que 77% da população da cidade de São Paulo apresente deficiência da Vitamina D no inverno, quando a incidência do sol é menor. Já no verão, esse percentual cai para 39% - o que ele ainda considera um número elevado.
Do Portal EBC
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