Não podemos justificar um erro com um outro erro. Óbvio. Mas na terra da incoerência, Brasil, é algo quase que, infelizmente, inevitável.
No meio de semana o São Paulo conseguiu a classificação para às semifinais da Copa do Brasil. Com duas vitórias diante do Flamengo. A última no Morumbi por 3 a 0. Antes e depois da bola rolar ouve apoio e festa de sua torcida - algo até esperado.
É justamente por tais atos que uma punição pode acontecer. A Torcida Tricolor Independente, uma das principais organizadas do São Paulo, será autuada pelo Centro de Vigilância Sanitária devido a aglomeração de pessoas. Multa pode chegar a R$ 276 mil. A partir do recebimento da notificação, a torcida tem até 10 dias para se manifestar sobre a decisão.
O Brasil registrou, nas últimas 24h, 644 novas mortes. Nas mesmas horas foram, também, registrados 35.686 testes positivos para a covid-19. Num total de 168.141 óbitos. Segundo dados do consórcio de veículos da imprensa.
Os números são para ilustrar o texto e, principalmente, relembrar que os números no país não cessaram.
No últimos dias nós vimos campanhas políticas a todo vapor. Entre caminhadas, carreatas, encontros, reuniões, "festa da vitória". Foram, em todos os aspectos e âmbitos, fontes de aglomeração, agrupamento e amontoado de pessoas, sem nenhuma punição - e não há desculpas ou retóricas para dizer que não. São fatos.
No entanto, tudo isso foi tratado com naturalidade, como se nada tivesse acontecendo. Normalizando, assim, o momento que é vivido. Como se o vírus tivesse tirado férias para que interesses políticos entrassem em cena - só que não. Uma pequena amostra de que a preocupação com mandatos é maior que a preocupação, propriamente dita, com o povo - típico.
Com isso, vemos agora mais uma das várias incoerências que imperam no Brasil. Onde, por exemplo, em determinados lugares ou momentos "pode" haver aglomerações em meio a uma pandemia; mas no futebol não. No futebol os estádios devem estar vazios e qualquer tipo de concentração de pessoas é proibido. As contradições de sempre.
Então, como funciona esse cuidado com a saúde do povo? São fragmentadas por interesses próprios? Ou aparece apenas quando convém?
Repito: não se pode justificar um erro com outro erro. Contudo, se há punição para quem infringe o protocolo sanitário, como no caso da torcida do São Paulo, deve haver para quem teve atitude semelhante ou até mesmo igual. Parte do princípio da igualdade - mesmo sabendo que no Brasil isso não é seguido.
Seria cômico se não fosse trágico. Mas é o Brasil. Em estado puro de sua peculiar hipocrisia. Nada de muito novo, apenas atualizado. Na terra de algumas coisas podem e outras não - mesmo sendo análogas.
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