Um placar totalmente anormal escancarou a realidade vivida pelas meninas do CATS (Taboão da Serra).
Em jogo válido pela 2ª rodada do Campeonato Paulista Feminino de Futebol, o São Paulo venceu a equipe de Taboão por 29 a 0. O jogo foi realizado na Arena Barueri e teve cobertura da TV FPF - canal da Federação Paulista.
Já no intervalo, quando o jogo estava 17 a 0, o placar elástico já não era o ponto alto da partida. O ponto mais relevante, digamos assim.
A capitã da equipe do CATS, Nini Baciega, deu uma entrevista muito comovente; além de lúcida e corajosa. Segundo à jogadora, o time teve tempo mínimo de treinos (menos de um mês). Intercalando em dois ou três atividades semanais - onde o campo foi 'arranjado' recentemente.
Ainda segundo a atleta, ela e o restante das meninas não recebem salário; nem têm material ou roupa de treino. Salientou também que o clube não dá nenhuma estrutura e apoio para que o trabalho seja feito. Elas apenas usam o nome da instituição para participar do campeonato, por entender que é uma vitrine para as mais jovens, principalmente.
Poderíamos estar muito bem falando sobre o placar do jogo e como o São Paulo conseguiu tal feito. Sim, poderíamos. Inclusive, vale ressaltar que as meninas do São Paulo não têm 'culpa'. Elas apenas estavam fazendo seu trabalho. Pois se há algo respeitoso no futebol, é ter a atitude que elas tiveram.
Algo precisa ser falado, se tornar pauta corriqueira e uma das principais: a estrutura do futebol feminino no Brasil.
Infelizmente esse não é um caso isolado. A realidade vivida por várias mulheres e meninas no "país do futebol" é dura. Por falta de apoio, estrutura, condição de trabalho digno, visibilidade e seriedade. Uma desvalorização secular.
Além claro, da luta diária contra o preconceito, o machismo e a cultura patriarcal que são características do futebol e do país. E não, não é mimimi. É algo concreto e existente.
É necessário mudar essa situação - ou situações. A CBF, Federações e clubes, precisam e devem dar, ao menos, condições dignas para essas meninas. Valorizar seus trabalhos de forma íntegra. Pois há condições e grana para isso - sabemos que sim.
O que falta, por vezes ou sempre, é interesse - como de praxe. Pois, se há alguma culpa das várias situações constrangedoras como esta acontecerem; essa culpa não é das jogadoras. Os culpados sabem e tem noção que são ou quem são.
O Brasil é um campo fértil para talentos na modalidade. Há muita qualidade no país. O que falta, na verdade, é oportunidade e apoio.
Por fim, é preciso destacar a grandeza das meninas do Taboão. Pois em momento algum baixaram a cabeça e deixaram de correr. Mesmo com toda a disparidade existente na partida contra o São Paulo. Tiveram total sororidade; honra, nobreza. Cultuaram, mesmo na adversidade, o companheirismo, a coragem e a luta.
Que a fala da Nini surta efeito - de uma vez por todas. Que quem comanda o futebol entenda que é necessário estruturar com decência. Que essa luta não pare. Das meninas do Taboão e outras várias espalhadas pelo país. E, meninas... Continuem. Não parem! Não cessem!
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