Mais um capítulo de uma história triste, dramática e melancólica.
Em sessão na 13ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, por dois votos a um, os desembargadores acataram parcialmente o recurso do Flamengo pela redução de pensão a familiares das vítimas do incêndio do Ninho do Urubu, ocorrido no dia 8 de fevereiro de 2019.
Em vez de R$ 10 mil mensais que vinham sendo pagos, agora o Flamengo deverá pagar cinco salários mínimos - o equivalente a R$ 5.225 - para as famílias. O Ministério Público e a Defensoria do Estado do Rio de Janeiro vão recorrer da decisão.
O clube carioca alega no agravo - peça processual em que contesta a decisão anterior - que o "juízo desconsiderou ter o Flamengo já firmado o acordo com algumas das famílias das vítimas, que deram quitação ao clube, bem como que, voluntariamente, em relação àquelas vítimas ou familiares que ainda não firmaram acordo, este já adianta mensalmente R$5 mil.
Outro ponto citado pelo departamento jurídico rubro-negro assinala na inicial que os R$ 5 mil são "bastante superior ao que os atletas recebiam como ajuda de custo, ou seja, R$ 300 e ao que poderiam prover aos seus pais na época".
As famílias que ainda não fecharam acordo com o clube e pedem ressarcimento por danos morais coletivos e individuais. além de valores de indenização, ainda vão a juízo com a diretoria rubro-negra. A ação principal do caso ainda não tem data para ser julgada.
Antes dessa "vitória" na Justiça - se é que podemos pontuar vencedores - a gente lembra que e-mails, em setembro de 2020, mostraram que o Flamengo sabia da situação de "grande risco" nove meses antes do incêndio. Pois uma vistoria apontava necessidade de "atendimento emergencial" em alguns pontos do sistema elétrico do alojamento que pegou fogo, causando a morte de 10 crianças - ou atletas da base.
Em um dos e-mails datado em 11 de maio de 2018, por exemplo, os responsáveis pela administração do CT receberam um relatório por um técnico contratado pelo clube que apontava problemas em diversos itens do sistema elétrico.
Então, houve negligência, omissão, desleixo, menosprezo. Logo, a responsabilidade pela morte dos garotos é de quem tinha o dever de cuidar - pois estavam sob seus cuidados - se é que podemos chamar tais atitudes de cuidado.
A rica história do Flamengo está manchada e não há nenhum alvejante que possa dá jeito, infelizmente. Porém, não devemos citar a instituição num caso que teve falha humana - ou desumana. Seria injusto.
Mas como um clube que se diz organizado, milionário, que ganha milhões com vendas de jogadores, que paga salários astronômicos para os padrões do nosso futebol, usa de mesquinhez num caso como este? Eu posso até dar outro nome à situação: ganância.
Não bastasse tudo o que vem se desenrolando, agora mais essa. Não bastasse a falta de empatia, atos desumanos e egoístas. São atitudes pequenas e desprezíveis de quem gere algo gigante - o Flamengo. Um egoísmo exacerbado que escancara quem são, de fato, os "heróis".
Foram dez vidas perdidas. DEZ. Dez sonhos ceifados por pura displicência e descaso. São DEZ famílias que continuam chorando suas perdas, vivendo num luto eterno. E por quê? Para quê? Para verem pessoas com condutas medíocres e repugnantes. Para verem as vidas dos seus sendo banalizadas e diminuídas em preços. Sem nenhum valor.
Sabemos que a Justiça é cega no Brasil. Porém, escolhe lados. Às vezes, ou sempre, velando algo. Estourando a corda, corriqueiramente, do lado mas fraco. Mas mesmo assim, que ela seja feita. E quem tem culpa, que pague. Mesmo, nesse caso, não tendo vitória ou vencedores.
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