Há coisas que só acontecem no futebol. Ou, na verdade, fora dele (sic!) - se é que vocês me entendem.

A Conmebol anunciou oficialmente que a empresa chinesa Sinovac irá doar à entidade 50 mil doses de sua vacina contra Covid-19. Segundo o comunicado, a imunização terá como foco os jogadores (a) dos principais times da América do Sul, além de profissionais (árbitros e comissão técnica, por exemplo) envolvidos em torneios masculinos e femininos. Nesse caso, a prioridade seria a Copa América, que começa em junho.

No Brasil, a Anvisa informou, em nota, que as vacinas que entrarem no país entregues pela Conmebol, terão que obrigatoriamente ser doadas ao SUS. Como diz a determinação prevista na Lei nº 14.125/2021.

No momento em que vivemos, seria utopia estarmos discutindo sobre tal situação. Contudo, vemos mais uma vez o alto grau de surrealismo que impera no futebol - em todos os seus âmbitos. É estranho pensar que a doação será para uma entidade que controla o esporte, e não para um governo, por exemplo. Fator que daria a possibilidade de distribuição para a sociedade e grupos prioritários.

Algo ilógico, contraditório e paradoxal. Mais uma vez o futebol reafirma o pensamento de estar acima de qualquer lei e código moral - mesmo a imoralidade reinando. Até porque o próprio não é um grupo prioritário. Não vejo, por exemplo, um "trabalhador comum" tendo menos relevâncias que às pessoas que serão imunizadas.

Em meio a uma das maiores crises sanitárias da história, vemos necessidades controversas e incoerentes. O mundo paralelo das importâncias deturpadas, mascaradas e trajadas de "benfeitoria". Podemos chamar isso de "ato fura-fila". Pois, logicamente, há carência em outros setores muito mais importantes.

Infelizmente estamos chegando num ponto em que tal ação, inevitavelmente, será corriqueira. Uma vez que ainda há omissão por parte de alguns governos na busca por vacina, ações sanitárias coordenadas e o incentivo à pesquisa. E nesse ponto saberemos bem como será a divisão e quem será o maior prejudicado: entre classe, raça, gênero. Sociedade e povo.

Estamos presenciando, mais uma vez, um dos absurdos envolvendo o futebol. Infelizmente.

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