Após a Copa do Mundo de 2019, parecia que o botão de "start" seria finalmente ligado aqui no Brasil. Mas, só parecia.
Tudo do mesmo e um triste episódio veio à tona. A técnica do Santos, Emily Lima, relatou em seu Instagram a situação de suas atletas ao chegarem em Brasília, após saírem da cidade de Santos e enfrentar várias escalas. Ao chegar no Hotel que a delegação se hospedaria, uma notícia pegou o time praiano de surpresa. Não havia reservas para as meninas e tiveram que dormir no saguão. Algo inadmissível.
Nossa entidade "maior", CBF, junto da empresa Palace, que cuidam da logística de viagem do Campeonato Brasileiro, usaram de total falta de respeito e imensa irresponsabilidade. Para variar.
Vou trazer alguns dados de um estudo da FIFA feito em todos os países e logicamente no Brasil, para ilustrar essa história.
Nosso país tem 15 mil mulheres jogando futebol de forma organizada (disputando campeonatos profissionais e amadores). Se compararmos com os Estados Unidos, ficamos 600 vezes atrasados. Lá, são 9,5 milhões de mulheres jogando bola por aí. Na Argentina são mais de 27 mil; na Venezuela, 24 mil. Nós perdemos até para países com populações inferiores, como Irlanda, Peru e Namíbia.
Na base, a situação é quase que deplorável ou é de fato deplorável. Comparando novamente com os EUA, a maior potência da modalidade, os números são gritantes. O Brasil tem apenas 457 jogadoras abaixo de 18 anos registradas nos clubes. Enquanto as norte-americanas tem 1,5 milhões. Por lá, elas tem 8 categorias de base na seleção, começando pelo sub-14, nos clubes. As categorias femininas começam com 4 ou 5 anos de idade. Aqui, cumprimos a exigência da FIFA e mantemos uma seleção sub-17 e sub-20, sendo que ambas estão sem técnico (a) desde setembro de 2018.
Outra coisa, a entidade só começou a "melhorar" algo quando a CONMEBOL junto da FIFA fizeram exigências e ameaçaram punir, caso não fossem acatadas. Ou seja, se não tivessem exigido, nada tinha mudado. É transparecer que só fizeram na marra. Na má vontade.
O episódio citado por Emily Lima é só mais um descaso que vem se perpetuando por décadas.
A técnica que já passou pela seleção, vem por anos levantando a bandeira do futebol feminino. Inclusive, sua saída do cargo foi no mínimo estranha. Emily tinha um aproveitamento melhor que o do técnico Vadão. Que chegou cambaleando na última Copa. E ao ser demitida, várias jogadoras anunciaram aposentadoria da amarelinha. Ou seja, foi mesmo no mínimo estranho.
Portanto, não dá para fortalecer a modalidade, se a entidade "maior" não está nem aí. E olhem que esse caso foi apenas um dos milhares que acontecem. Enquanto não entenderem que o trabalho deve ser feito com seriedade e profissionalismo, nada vai mudar e o discruso bonitinho continuará (só balela). Vamos continuar vendo muito talento, muita menina boa de bola, mas sem apoio. A esperança é que isso um dia mude. Porém, uma coisa essas pessoas têm que entender. Essas mulheres e meninas merecem respeito. E sem levantar bandeira de gênero. Merecem respeito como profissionais e atletas que são. Isso é o mínimo.
Mas, esperar o que de uma entidade sem moral e credibilidade onde passa, não é mesmo?
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