Atenção! O título do texto contém ironia.
Em jogo cheio de confusões, Neymar foi expulso de campo após o árbitro de vídeo (VAR) flagrar uma agressão do atacante. O brasileiro admitiu a agressão e disse ter merecido a expulsão. Porém, acusou o defensor do rival de racismo. Segundo ele, Álvaro González teria o chamado de macaco.
Mais um caso de preconceito na 'terra se lei' que é o futebol. No entanto, o mais bizarro são as manifestações sobre o acontecido - muito bizarro.
Alguns pontos precisam ser destacados.
Primeiro: Neymar sofreu na pele o que várias pessoas sofrem diariamente. Sua indignação é válida e justa. E por isso, talvez agora, ele entenda que é necessário se posicionar. Que é preciso ter voz ativa e lugar de fala, por conta da sua posição social - por ser um astro internacional e ter muita visibilidade.
É uma oportunidade de lutar, agora, por algo maior. Algo que vai além de qualquer esporte, medalhas ou títulos. E entender de uma vez que uma figura como ele é indispensável para a causa.
Segundo: por que estão contestando a indignação de quem sofreu racismo?
Já escrevi várias vezes sobre o Neymar aqui. Sempre citei que há uma pontada de despeito por conta de tudo que ele conquistou. Por sair de baixo, se um incomum, conquistar tudo e tão jovem e ainda mais - ironicamente - por ser brasileiro.
"Pois não há nada que ofenda mais o brasileiro, do que outro brasileiro fazendo sucesso" - já dizia Carter Batista. E agora, isso ficou muito mais nítido. Infelizmente.
No entanto, a parada agora vai além do "ranço" que vários têm com o atacante. Estamos falando de discriminação, preconceito, injúria e o famigerado racismo. Porque se há contestação sobre a atitude de quem sofreu, há contradições de ideias e ideais - se é que esse pessoal leva consigo tais aspectos.
Contestar se é certo ou errado, pelo fato do jogador não ter se posicionado contra antes, é usar de uma retórica vazia e sem fundamento. Racismo é racismo e pronto. Agora estamos vendo, mais uma vez, que ele não escolhe classe social. Se é rico ou pobre; feio ou bonito. Ele "só" existe e ponto.
Usar de tais argumentos vazios para minimizar o caso é estar do lado do opressor; do racista. Algo que acontece corriqueiramente no futebol, infelizmente. Onde passam pano e tratam com naturalidade algo tão considerável. Tão pertinente.
Como cita filosofa norte-ameriacana Ângela Davis: "Não basta não ser racista, é preciso ser antirracista".
Ou seja, se por "birrinha", inveja, despeito ou quaisquer outros fatores, o indivíduo impugna ou discorda do protesto do oprimido, ele está comungando com o racista. Está dando margem para que isso se repita.
Então, mesmo que eu concorde que Neymar deveria ter se posicionado e se posicionar de forma firme ou se engajar na causa, não é um motivo para achar uma repulsa como a dele errada. Só há um errado nessa história e não é ele.
Contudo, é mais do mesmo. Atitudes de quem vive em uma sociedade racista. Onde o racismo está altamente enraizado. Em todas as esferas da sociedade. Lugar, canto e campo. Comportamento pequeno de quem diminui uma causa. Pelo fato de achar - com toda imbecilidade - que é algo "normal".
Por tudo isso, o erro é mesmo de Neymar. Certo é o racista. Correto é colocar o ressentimento em jogo para diminuir e desvalorizar um caso e causa relevante.
Para uns, desejo discernimento e muito estudo para entender e desconstruir conceitos equivocados. Para outros, desejo só uma coisa: fogo.
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