18/06/2019 00:31:19
Jacson Tigre
Crônica: A Tempestade
Por Jacson Tigre
Jacson Tigre

Avancei a passos lentos até a cozinha, o gato me acompanhou. Peguei a garrafa de café e uma xícara no armário, coloquei em cima da mesa de madeira. Afrouxei a tampa e derramei o café na xícara, dei o primeiro gole, percebi que estava morno. Aproximei-me do fogão. Próximo da janelinha estava o rádio, liguei, imediatamente chiou. Senti dificuldade para encontrar a emissora. Enfim, achei! O gato miou, passou esfregando-se entre minhas pernas, esticou-se ao pé da mesa, preguiçoso, fixou os olhos grandes com suas pupilas dilatadas em minha direção, parecia comemorar meu sucesso. No noticiário, falava-se amplamente da forte tempestade que caiu na região durante a noite anterior, temporal que cortou a madrugada.

Estendi a mão e peguei um romance que estava sobre a mesa, fui direto na página marcada, sem coragem de lê-lo, deixe-o de lado. Continuei atento, ouvindo o rádio, comecei a lembrar de ontem: já passava das três da tarde quando a chuva começou. Tímida! Durante à noite, apresentou-se forte, ficou intensa ao longo da madrugada. Choveu sem trégua.

A energia elétrica tinha caído pela terceira vez. Acendi às velas e coloquei-as posicionadas em pontos específicos da casa: na sala, cozinha e quarto. Caminhei até a janela, o gato que tinha sumido, não demorou apareceu, se mostrava assustado. Saltou no sofá. Então, ficamos a observar pelo vidro embaçado, tudo que se passava lá fora. A chuva caía forte, ventos violentos, trovões e raios. Não era possível mensurar tamanha agressividade da natureza.

Há tempos, não se via um fenômeno desses, por essas bandas. O céu estava coberto de nuvens escuras. Todo o barulho causado pelos trovões e rádios; fazia-me imaginar que o mundo estava se partindo ao meio. A rede elétrica parou de funcionar de vez. Apagão geral, já não oscilava mais. Então, pudemos perceber que as perdas seriam maiores. Nas casas, mercados, repartições públicas e indústrias.

Na zona rural, estradas intransitáveis, lama que dava na canela. Riachos transbordaram, levando no eito tudo que tinha pela frente. Na fazenda, sozinho, estava o velho Cipriano: temeroso, encolhido, murcho. Observava tudo que podia pelo buraco da fechadura, na porta dos fundos. Tinha na mão direita, trêmula, uma lanterna. Decidiu refugiar-se no banheiro, onde era lajeado a cobertura, achou seguro o local. Na mão esquerda, segurava firme uma imagem de Nossa Senhora Aparecida. Sem cerimônia, franziu a testa e puxou a santa para perto do peito. Em seguida, clamou cheio de fé, ainda que tomado pelo medo. Que a tempestade fosse embora! Mas, só pela manhã, ela atendeu seu pedido. E a chuva se foi.

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