"É durante a quaresma que mais se come", já dizia ironicamente Graciliano Ramos em uma edição de "O Índio" jornal semanalmente produzido pelo pároco da então Igreja Matriz de Nossa Senhora do Amparo (atual catedral diocesana).
Na época, o escritor não assinava a matéria com seu nome, mas como J. Calisto, um de seus conhecidos pseudônimos. O texto da coluna "Traços a Esmo", viria a compor a coletânea Linhas Tortas, que reúnes contos e crônicas conhecidas do autor.
O texto, publicado em 27 de março de 1921, descreve em tom bem-humorado, uma refeição dos dias de jejum:
"Levanta-se uma alma piedosa pela manhã, executa uma razoável quantidade de rezas, limpa os dentes, se tem este costume, lava os olhos, senta-se à mesa e ingere certa porção de café, uma porção regular, pois isto de jejuar sem café está banido, que ninguém é de ferro.
[...]
Às onze horas, o penitente almoça um quilo de bacalhau, três pratos de arroz com feijão, uma travessa de folhas de bredo, algumas dezenas de bananas, mangas e outras frutas, café e...só. Alguns engolem, também uma traíra do açude, mas isto não é obrigatório. Mesmo sem ela, fica-se bem jejuado."
O texto é engraçado, mas brincando pode-se dizer as coisas mais absurdas. Graciliano Ramos, nos anos 1930, tendo se tornado prefeito de Palmeira dos Índios, ainda escreveria Caetés, sua primeira publicação a alcançar notoriedade. Neste livro, como nas suas colunas no jornal, ele critica a sociedade palmeirense e as hipocrisias cotidianas.
Será que mudamos?
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