Esta última terça-feira (15) foi dia dos professores, uma data meramente simbólica. Pois, respeito, que é bom, temos em minúsculas quantidades. Sendo um profissional da educação, desejo fazer algumas reflexões sobre esse dia. Você aceita se quiser, se não, já valeu a leitura.
Imagina que maravilha, se em vez de versículos bíblicos ou mensagens copiadas do Google, nos dessem a chance de sermos ouvidos de verdade. Como seria incrível se, ao invés de nos usarem como cenário para posts de marketing, as escolas e os estudantes parassem para nos ouvir.
E que tal, ao invés de elogios automáticos no Dia dos Professores, fizeram aquele silêncio maravilhoso enquanto explicamos que a Revolução Francesa não foi ontem? Seria legal, não?
Ou que, em vez de "professor, fulano na internet falou que está certo", respeitassem nossa formação (e o Google não tem diploma, só lembrando). Aplausos? Só aceitamos se virem acompanhados de um “prof., eu entendi a matéria!”. Mas o que eu queria mesmo era um mundo onde não precisássemos de bilhetes dizendo "você é especial", porque o respeito ao nosso trabalho já seria evidente e diário.
Sem comparações com outras profissões, por favor – já temos o suficiente para corrigir sem isso!
E que tal sermos empregados sem que precisemos de carta de recomendação ou indicação? E sabe o que seria ótimo? Um bom salário. Pois, isso motiva bem mais que milhões de bilhetinhos. Porque, convenhamos, respeito não cabe em uma caneca, mas faz toda a diferença no dia a dia.
Ainda vivemos em uma sociedade, na qual boa parte da população tomou os professores como inimigos. Somos chamados de doutrinadores, quando não partilhamos das mesmas ideias enviesadas de fanáticos por políticos.
No serviço público, estamos expostos aos abusos e violência de alunos irresponsáveis e pais terríveis. Uma burocracia sufocante nos impõe milhares de documentos e planilhas, com prazos absurdos e que retiram nossa autoridade. Somos obrigados a aprovar estudantes automaticamente, para maquiar os dados estatísticos.
No setor privado, nos impõem humilhações sem tamanho. Existem exceções, porém o dinheiro e influência têm falado mais alto. Já passei por situações nas quais tive que aprovar estudantes por pressão dos pais, que ameaçaram pedir transferência. A escola, deixou de ser escola. Virou empresa. Onde não mandam, ordenam. Não pedem, se impõem. E isso foi naturalizado.
Nas formações pedagógicas o que reina é a demagogia. Contratam coachs e profissionais quânticos para nos ensinar a dar aulas. Porque a moda é dizer que todo mundo, menos o professor sabe dar aula. Me julgue, mas na minha cabeça, se as palestras tiverem as palavras “quântico” e “coach”, as traduções automáticas já apontam para hipocrisia e pilantragem.
Mas, o importante é que no dia dos professores nos dão bilhetes com mensagens motivacionais. E, só nos reconhecem quando morremos, por estresse, nódulos na garganta, doenças psicossomáticas ou quando algum aluno nos assassina. Fora isso, pelo resto do ano, o professor que se vire, pois vai ter o couro arrancado.
Assim, termino essa reflexão, com o bordão do célebre personagem interpretado pelo ator Lima Duarte, o Sinhozinho Malta: “Tô certo, ou tô errado?”
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