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Polícia
Postada em 08/07/2025 19:16 | Atualizada em 09/07/2025 09:03 | Por Todo Segundo

Gabriel Lincoln: “atirar para matar não é protocolo em polícia”, diz advogado

Às vésperas da reprodução simulada, investigação sobre a morte do menor revela lacunas
“Atirar para matar não é protocolo em nenhuma polícia do mundo", afirmou Gilmar Torres - Foto: Arquivo

À medida que se aproxima a reprodução simulada da ação policial que tirou a vida do adolescente Gabriel Lincoln Pereira da Silva, de 16 anos, o caso segue ganhando contornos mais complexos e reacende debates intensos sobre o uso da força e o direito à vida.

Procurado nesta terça-feira (8), pelo Portal Todo Segundo, o advogado da família, Gilmar Torres, voltou a criticar com veemência a conduta dos policiais militares envolvidos na ocorrência e foi categórico: “Atirar para matar não é protocolo em nenhuma polícia do mundo.” Destacou.

A declaração ocorre em um momento decisivo das investigações, que caminham para a fase final com a simulação dos fatos marcada para o próximo dia 15 de julho, no bairro Vila Maria — local onde Gabriel foi baleado e morto durante uma perseguição policial no dia 3 de maio.

Torres contesta a narrativa apresentada pelos policiais, segundo a qual Gabriel teria fugido em alta velocidade em uma motocicleta, desobedecido à ordem de parada, realizado manobras perigosas e, durante a fuga, sacado uma arma e atirado contra a guarnição. Segundo os agentes, a resposta foi feita com disparos.

Para o advogado, essa versão tenta dar legitimidade a uma conduta inaceitável. “Gabriel não estava de posse de arma de fogo. Gabriel nunca teve acesso a uma arma. O que houve foi uma perseguição truculenta e desastrosa, que culminou com a morte de um menor inocente”, afirmou.

Ele foi além: “O que ocorreu foi uma execução sumária, não uma ação de segurança pública. A sociedade precisa compreender a gravidade disso”, disparou, destacando a importância da simulação para reconstituir os fatos com precisão técnica.

Laudos inconclusivos e etapas pendentes

Entre os elementos que ainda alimentam dúvidas no inquérito estão os laudos periciais. Um deles identificou material genético no revólver atribuído a Gabriel. No entanto, o documento não especifica se a amostra é de sangue, pele ou outro resíduo biológico. Para esclarecer, o Instituto de Criminalística (IC) solicitou a coleta de material genético dos pais do adolescente — o que já foi feito no Instituto Médico Legal (IML) de Arapiraca.

Outros dois laudos são considerados cruciais para elucidar o caso:

• O exame residuográfico, que pode apontar se havia resíduos de pólvora nas mãos do adolescente — o que confirmaria ou enfraqueceria a versão de que ele teria disparado uma arma;

• O laudo complementar de balística, que deve detalhar a trajetória dos tiros e outros elementos técnicos capazes de reconstruir com exatidão a dinâmica da abordagem.

Ambos os documentos ainda não foram entregues oficialmente à Polícia Civil.

Desde a morte de Gabriel, moradores de Palmeira dos Índios vêm organizando protestos, tanto nas ruas quanto nas redes sociais, em busca de justiça. Os relatos de testemunhas, que afirmam que o jovem não estava armado e foi atingido mesmo após a moto ter parado, intensificaram a mobilização popular.

A comoção provocada pelo caso escancarou uma ferida ainda aberta na sociedade brasileira: o tratamento dado a jovens das periferias, especialmente em abordagens policiais. “É uma dor sem fim, um buraco que nada preenche”, desabafou a mãe de Gabriel durante uma manifestação.

Com a maioria dos depoimentos já colhidos, a produção dos laudos técnicos em andamento e a simulação agendada, o inquérito entra em sua reta final. Ao término das diligências, o relatório da Polícia Civil será encaminhado ao Ministério Público, que deverá analisar se há elementos suficientes para apresentar denúncia e responsabilizar criminalmente os envolvidos.

Enquanto isso, a sociedade alagoana segue atenta e mobilizada em torno de um caso que extrapola os limites de uma apuração criminal. Ele escancara as tensões entre as práticas de segurança pública e os direitos fundamentais — uma fronteira que, para muitos, continua sendo violada impunemente.

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