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Postada em 23/11/2023 17:31 | Atualizada em 23/11/2023 17:33 | Por Lauriberto Pompeu / O Globo

Renan Calheiros vê rivais Lira e Alcolumbre ascenderem junto ao Planalto

Pai de ministro, senador se ressente de falta de apoio do governo para tocar projetos políticos
Um dos mais fieis apoiadores de Lula desde o primeiro turno do ano passado, Renan Calheiros - Foto: Ricardo Stuckert

Um dos mais fieis apoiadores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva desde o primeiro turno do ano passado, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) tem acumulado divergências com o Palácio do Planalto ao mesmo tempo em que seus adversários ganham espaço. De um lado do Congresso, ele enfrenta dificuldades para fazer frente a Davi Alcolumbre (União-AP) nas articulações para a sucessão de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) no comando do Senado em 2025. Do outro, vê seu principal rival, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), conquistar mais influência junto ao Executivo.

Responsável por indicar o ministro dos Transportes, Renan Filho, de quem é pai, o senador evita partir para o confronto direto com a gestão do presidente Lula. Os sinais de insatisfação, no entanto, ficam evidentes, nas ausências dele em eventos do governo e nas reclamações sobre a condução da articulação política, como a aproximação com o Centrão.

Líder do bloco da maioria no Senado, Renan foi uma das poucas lideranças da base que não estiveram em uma reunião de Lula com senadores no Planalto há duas semanas. Ele também não compareceu a um evento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em Maceió.

O senador do MDB, contudo, acompanhou o governo em votações prioritárias na economia, como o arcabouço fiscal e a Reforma Tributária, além de dizer ter sido um dos 35 votos favoráveis à indicação de Igor Roque como chefe da Defensoria Pública da União (DPU), derrotada em plenário em uma votação secreta. Por outro lado, Renan participou da derrota imposta ao Executivo ao votar a favor do marco temporal das terras indígenas.

Da mesma forma como fez Alcolumbre ao articular a votação do projeto, o voto de Renan foi visto como um gesto à oposição. O senador acumula embates com o ex-presidente Jair Bolsonaro, principalmente pela atuação na CPI da Covid, mas também deseja ter um diálogo no Senado que vá além da base de Lula.

O emedebista é hoje um dos poucos senadores que busca fazer oposição à campanha antecipada de Alcolumbre para voltar ao comando da Casa e já procurou o líder do MDB no Senado, Eduardo Braga (AM), e o presidente do PSD, Gilberto Kassab, para discutir o assunto. Apesar disso, ele ainda não tem garantia de apoio do governo nem do PT, que não fecham as portas para alternativas a Alcolumbre.

Renan chegou a pedir a Braga que reúna a bancada para o partido discutir estratégias. Ele tenta já arrancar um acordo para lançar candidato contra Alcolumbre. No entanto, o colega de legenda ainda não deu uma previsão de data para essa reunião e não há confirmação de que acontecerá antes de acabar o ano. Em paralelo, Renan, que foi contra o apoio do governo à reeleição de Lira à presidência da Câmara, no início do ano, vem defendendo que MDB e PSD se unam para lançar um nome na Casa vizinha que faça concorrência ao candidato apoiado pelo deputado.

Lira obteve vitórias recentes com as nomeações de Carlos Vieira na presidência da Caixa Econômica e de André Fufuca no Ministério do Esporte. O senador reconhece que o tamanho do Centrão no Congresso tornou inviável a governabilidade sem o bloco, mas avalia que o acordo tinha que ser construído de forma a amarrar o apoio a um leque de iniciativas do governo.

Aliança complexa

O presidente da Câmara vem defendendo junto ao governo que seja viabilizado um acordo entre ele e Renan para ambos concorrerem ao Senado com apoio de Lula em 2026. Não seria a primeira vez. Em 2010, Renan e Benedito de Lira (PP-AL), pai do presidente da Câmara, estavam em chapas diferentes e tiveram o apoio do petista. Os dois se elegeram. O acirramento veio quatro anos depois, quando Renan Filho venceu Benedito de Lira na eleição para governador. Já em 2018, o pai do ministro dos Transportes e Benedito tentaram a reeleição, mas desta vez com trocas de insultos.

Renan, contudo, resiste e deseja estar na chapa com um nome mais alinhado ao seu grupo político. A eleição em Maceió no ano que vem também é apontada como motivo para que o antagonismo persista. Lira apoia a reeleição do prefeito JHC (PL), enquanto o MDB já decidiu que vai ter candidato próprio. Em 2026, a tendência é que Lira concorra ao Senado na aliança que deverá ter JHC como candidato a governador. Já o MDB avalia lançar Renan Filho para voltar a comandar o estado.

Renan tem dito que o governo federal nunca o procurou para falar diretamente sobre o eventual acerto. O emedebista considera que Lira ficará enfraquecido após deixar a presidência da Câmara, em 2025, e por isso não haveria necessidade de composição. Já Renan Filho desconversa:

— A eleição de 2026 está longe, e temos a de 2024 antes.

Renan nega que a ausência na reunião de senadores com Lula no Planalto tenha a ver com a aproximação de Lira com o governo. Sobre o lançamento do PAC em Alagoas,diz que não havia necessidade de ir, já que o seu filho estava lá. A respeito da reunião no Planalto, o emedebista declarou que não havia voo disponível para chegar a tempo em Brasília.

Outro episódio que deixa o senador e aliados do governo em lados opostos é a criação da CPI da Braskem. Segundo aliados de Renan, o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), atuou para enfraquecer a iniciativa, proposta pelo emedebista, e que até agora não saiu do papel. O colegiado tem como objetivo apurar o episódio de afundamento em bairros de Maceió e tem potencial para desgastar o prefeito JHC, aliado de Lira. Além de Jaques Wagner, o líder do PSD no Senado, Otto Alencar (BA), e o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, também teriam atuado contra a instalação. A intenção é fazer com que a comissão não atrapalhe o processo de venda da petroquímica.

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