As eleições estaduais de 2026 em Alagoas prometem reeditar um dos confrontos políticos mais simbólicos da história recente do estado: a disputa entre a hegemonia do grupo Calheiros no interior e a resistência oposicionista consolidada em Maceió. Com a candidatura do ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB), já confirmada, cresce a expectativa sobre a definição do futuro político do prefeito da capital, João Henrique Caldas (PL), o JHC, ainda indeciso entre concorrer ao governo ou ao Senado.

O embate entre o clã Calheiros e a oposição enraizada na capital não é novo. Desde 1988, quando Renan Calheiros foi derrotado na disputa pela prefeitura de Maceió por Rui Palmeira, então deputado estadual e pai do ex-prefeito de mesmo nome, o grupo político ligado ao MDB enfrenta forte resistência entre os eleitores da capital. Em contrapartida, o interior do estado se mantém como reduto fiel do grupo, sustentado por décadas de articulação política, redes de prefeitos aliados e investimentos descentralizados.

Renan Filho de volta à disputa estadual

Longe da gestão estadual desde 2022, Renan Filho retorna ao cenário local com o apoio consolidado do MDB, partido que domina o interior alagoano e se fortalece com a presença do ex-governador no governo federal. A estratégia é clara: reeditar o modelo vitorioso de 2014 e 2018, baseado em uma ampla aliança com prefeitos e vereadores, forte capilaridade partidária e respaldo da máquina federal.

O MDB reconhece a dificuldade de conquistar votos em Maceió, onde seu grupo foi derrotado nas últimas eleições majoritárias. No entanto, a aposta é que a força no interior continue sendo suficiente para garantir a vitória no estado, mesmo diante de uma possível derrota expressiva na capital.

JHC: entre o Palácio República dos Palmares e o Senado

Do lado oposicionista, JHC surge como o único nome com potencial para polarizar diretamente com Renan Filho. Reeleito prefeito de Maceió em 2024, o gestor mantém altos índices de aprovação e é visto como figura central para unificar as forças contrárias ao MDB. Apesar disso, ele ainda não decidiu se disputará o governo ou buscará uma vaga no Senado.

Aliados defendem a candidatura ao governo, argumentando que somente JHC teria musculatura eleitoral para romper o domínio do grupo Calheiros no interior. Por outro lado, setores mais cautelosos veem no Senado uma alternativa mais segura, que manteria sua projeção nacional e permitiria que ele continuasse influente no xadrez político estadual.

Enquanto a decisão não é anunciada, nomes como Fábio Costa (PP), Alfredo Gaspar (União Brasil), Marx Beltrão (Avante) e o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), se movimentam nos bastidores. No entanto, até o momento, nenhum deles apresenta capital político suficiente para protagonizar o confronto com Renan Filho na ausência de JHC.

Maceió x Interior: a geografia do voto

O cenário em formação expõe mais uma vez a clássica clivagem geopolítica alagoana: uma capital refratária à influência do MDB e um interior amplamente fidelizado ao grupo. Vencer em 2026 significará, para a oposição, o desafio de quebrar o “cinturão municipalista” que sustenta o renanzismo. Para o MDB, a missão é manter a base territorial e ampliar pontualmente sua presença urbana, o suficiente para garantir maioria no conjunto do estado.

Linha do tempo: confrontos históricos entre Renan e a oposição em Maceió

• 1988 – Renan Calheiros é derrotado por Rui Palmeira (pai do ex-prefeito de Maceió) na eleição para a Prefeitura da capital.

• 2004 – Cícero Almeida, então opositor, vence o candidato do grupo de Renan.

• 2012 – Rui Palmeira (filho) vence a prefeitura com apoio oposicionista.

• 2016 – Rui Palmeira se reelege, derrotando novamente o MDB local.

• 2018 – Rodrigo Cunha lidera em Maceió na disputa ao Senado, superando Renan Calheiros.

• 2020 – JHC vence a prefeitura contra Alfredo Gaspar, apoiado por Renan.

• 2022 – Rodrigo Cunha domina o eleitorado da capital na majoritária.

• 2024 – JHC é reeleito prefeito de Maceió com ampla margem.

Disputa de projetos e de gerações

Mais do que um confronto entre nomes, a eleição de 2026 simboliza a disputa entre projetos antagônicos: de um lado, o novo, urbano, digital e mais liberal; do outro, o tradicionalismo político, enraizado nas práticas do interior e no controle de estruturas locais de poder. Em jogo está mais que o comando do Executivo estadual — está a redefinição do mapa político de Alagoas para a próxima década.