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Alagoas
Postada em 12/07/2025 09:24 | Atualizada em 12/07/2025 09:27 | Por Todo Segundo

Cavalo de R$ 12 milhões morre em Alagoas após consumir ração suspeita

Quantum era considerado um dos maiores patrimônios genéticos da raça Mangalarga Marchador
Quantum, reprodutor símbolo da raça Mangalarga Marchador, morreu em haras de Alagoas - Foto: Reprodução

Um dos garanhões mais valiosos e premiados do país, o reprodutor Mangalarga Marchador Quantum, avaliado em R$ 12 milhões, morreu no início de junho após consumir ração supostamente contaminada, fabricada pela empresa Nutratta. O animal, pertencente ao Haras Nova Alcateia, sediado em Alagoas, é apenas uma das mais de 600 mortes de cavalos investigadas pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), que trata o caso como um dos maiores escândalos sanitários da equinocultura brasileira.

A morte de Quantum abalou não apenas o setor agropecuário, mas também o universo dos grandes leilões e da genética de elite. O cavalo fazia parte de um consórcio de investidores que adquiriam cotas do animal, dividindo os custos de manutenção e participações em disputas de alto nível. Quantum acumulava títulos importantes e era considerado uma das promessas reprodutivas mais rentáveis do país.

“Mesmo submerso na tristeza de ter perdido você, eu consegui encontrar um dos mais nobres sentimentos: gratidão!”, publicou um dos sócios cotistas, o alagoano Luciano Conceição, nas redes sociais, em uma despedida emocionada que viralizou no meio equestre.

O Haras Nova Alcateia confirmou que Quantum não foi a única perda. Outros animais também morreram ou apresentaram sintomas severos. Em nota, os criadores afirmaram que estão tomando todas as medidas jurídicas cabíveis e que “seguem em busca de justiça para que os responsáveis sejam punidos”.

Desde abril, criadores de cavalos de pelo menos cinco estados (incluindo Alagoas, São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Goiás) relatam mortes e sintomas neurológicos graves em seus animais. As denúncias apontam a ração equina da Nutratta como possível causadora das intoxicações.

No dia 17 de junho, o Mapa determinou o recolhimento de lotes com data de fabricação de 22 de novembro. Em 25 de junho, a pasta ampliou a decisão e suspendeu o uso de todos os produtos da empresa destinados a cavalos. No entanto, a Nutratta conseguiu liminar na Justiça Federal para continuar vendendo os produtos não voltados ao público equino.

Testes laboratoriais apontaram a presença de monocrotalina, substância altamente tóxica encontrada em plantas do gênero Crotalaria. Esse composto pode causar danos irreversíveis no fígado, pulmão, rins e, em estágios avançados, no cérebro dos animais, levando à perda de coordenação motora e, em muitos casos, à morte.

Apesar da identificação da toxina, as investigações prosseguem. Ao menos 200 cavalos seguem em observação em todo o país, e novas mortes continuam sendo registradas — como nove novos casos apenas nesta semana, em São Paulo.

A repercussão da morte de Quantum mobilizou criadores, associações e parlamentares do setor agropecuário em Alagoas. Representantes da Associação dos Criadores de Cavalos de Alagoas (ACCA) cobram maior rigor na fiscalização da produção de rações e transparência nas investigações conduzidas pelo Mapa.

“O impacto dessa perda vai além do valor financeiro. Estamos falando de um símbolo da excelência genética nordestina, de anos de investimento e dedicação”, disse um porta-voz da associação.

A Nutratta nega qualquer responsabilidade direta pelas mortes e afirma colaborar com as investigações. Em nota oficial, a companhia sustenta que seus produtos passam por rígidos controles de qualidade e que o episódio pode ter origem em contaminação externa ainda não comprovada.

A empresa, contudo, não comentou a decisão judicial que suspendeu temporariamente a venda de suas rações equinas nem a presença de monocrotalina identificada pelo Mapa.

Enquanto a dor da perda ainda ecoa entre os criadores, a Justiça começa a ser acionada. Escritórios de advocacia especializados em direito agropecuário já preparam ações coletivas e individuais para buscar indenizações milionárias — tanto por perdas financeiras quanto por danos morais.

Em Alagoas, os sócios do Haras Nova Alcateia avaliam recorrer à Justiça Federal e já articulam uma aliança com criadores de outros estados para fortalecer o processo.

“Não teremos nossos animais de volta, mas vamos lutar para que isso nunca mais aconteça”, reforçou a direção do haras em nota.

O caso evidencia a fragilidade dos mecanismos de controle de insumos no Brasil e levanta um alerta para toda a cadeia da equinocultura, que movimenta bilhões anualmente. Para Alagoas, o episódio representa uma ferida profunda em um setor que, além de econômico, carrega fortes vínculos com a cultura e o orgulho regional.

O Ministério da Agricultura deve divulgar, nas próximas semanas, um relatório parcial com as conclusões da investigação. Até lá, criadores pedem cautela no uso de rações e exigem respostas rápidas e concretas.

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