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Alagoas
Postada em 25/07/2025 07:22 | Atualizada em 25/07/2025 17:01 | Por Todo Segundo

Pesquisa detecta microplástico em cordões umbilicais de bebês em Maceió

Estudo feito com gestantes atendidas pelo SUS revela presença de partículas plásticas até nos fetos
Bebês com plástico no corpo: estudo revela contaminação intrauterina em gestantes de Maceió - Foto: Ilustrativa

Pela primeira vez na América Latina, pedaços de microplástico foram encontrados em placentas e cordões umbilicais de gestantes brasileiras. O achado inédito foi feito em Maceió (AL), capital que enfrenta graves desafios ambientais, e causou alerta na comunidade científica. O estudo, realizado por pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), em parceria com a University of Hawai’ at Mãno, foi publicado nesta sexta-feira (25), nos Anais da Academia Brasileira de Ciências.

Das dez amostras analisadas de gestantes atendidas exclusivamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), foram identificadas 229 partículas de microplástico. O dado mais alarmante, segundo os pesquisadores, é que 119 dessas partículas estavam nos cordões umbilicais, em oito das dez amostras analisadas — o que indica a travessia da barreira placentária pelas partículas e o consequente contato direto com o feto.

“Isso significa que há possibilidade de crianças estarem nascendo com plástico já presente em seus corpos”, alerta o biomédico Alexandre Urban Borbely, professor da UFAL e um dos autores do estudo. Segundo ele, a concentração nos cordões umbilicais supera a observada nas próprias placentas, o que aumenta a preocupação quanto aos impactos no desenvolvimento fetal e nas condições de saúde das crianças após o nascimento.

As análises laboratoriais identificaram que os microplásticos encontrados tinham menos de 5 milímetros e eram compostos principalmente por polietileno (muito usado em embalagens plásticas descartáveis) e poliamida (frequente em tecidos sintéticos). “Como a análise foi realizada em cerca de 40 gramas de tecido, estimamos que a quantidade real de partículas por órgão seja ainda maior”, afirma Borbely.

O estudo também aponta que o consumo de frutos do mar contaminados pode ser uma das vias de exposição, uma vez que os mares estão entre os principais vetores de poluição plástica. A equipe ressalta ainda a vulnerabilidade social e ambiental da população atendida pelo SUS, que frequentemente recorre à água mineral engarrafada, cujo transporte e armazenamento sob alta radiação solar favorecem a liberação de partículas do recipiente para a água.

De acordo com os pesquisadores, 75% do lixo nas praias de Maceió é composto por plásticos — com destaque para sacolas e embalagens de produtos ultraprocessados. A situação ambiental da capital alagoana reforça o alerta dos cientistas para a urgência de políticas públicas que combatam a poluição plástica e melhorem o saneamento e a qualidade da água consumida pela população.

O Portal Todo Segundo tenta contato com a Prefeitura de Maceió para comentar o impacto dos dados revelados pelo estudo.

Risco silencioso

A descoberta reforça preocupações globais com os efeitos dos microplásticos sobre a saúde humana. Apesar de serem invisíveis a olho nu, essas partículas vêm sendo associadas a processos inflamatórios, desequilíbrios hormonais e disfunções metabólicas em estudos laboratoriais. No caso dos fetos, os riscos são ainda mais desconhecidos — o que torna a descoberta em Maceió um marco científico e sanitário com repercussões potenciais para toda a América Latina.

“Estamos falando de um poluente invisível, que já chegou aos corpos mais vulneráveis da sociedade — fetos que ainda nem nasceram. Isso exige uma resposta urgente das autoridades e da sociedade civil”, finaliza Borbely.

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