Dólar hoje 5,811
24° C em Arapiraca, AL Tempo nublado
Brasil
Postada em 19/06/2016 10:00 | Atualizada em 19/06/2016 10:09 | Por Todo Segundo

Mulheres negras são maioria no Brasil mas apenas 0,39% na Câmara

Deputada deu voto decisivo na cassação de Cunha e lembrou: ‘ninguém manda’ nessa nega aqui
Mulheres negras são maioria no Brasil mas apenas 0,39% na Câmara - Foto: Divulgação
No centro das atenções do Brasil nesta terça-feira (14), a deputada Tia Eron (PRB-BA) usou a sua fala na sessão do Conselho de Ética para nos lembrar de uma estatística estarrecedora: a baixa representatividade da mulher negra no Congresso Nacional.

Ao proferir seu voto decisivo pela cassação do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) no colegiado, Tia Eron disse que: "ninguém manda nessa nega aqui e lembrou que o processo se arrastava há sete meses e precisaram chamar uma mulher para resolver o que os homens não conseguiram".

A deputada que deu o voto decisivo pela cassação de Eduardo Cunha no Conselho de Ética faz parte da maioria da população brasileira. As mulheres são 51,4% dos brasileiros e os negros, 53,6%, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Apesar disso, ao lado de Tia Eron, entre os 513 deputados federais eleitos há apenas uma segunda mulher negra na Câmara, a colega de partido Rosângela Gomes (PRB-RJ). A deputada Benedita da Silva (PT-RJ), precursora entre as mulheres negras na política brasileira, está de licença médica. Com a licença de Benedita, as mulheres negras são 0,39% da Câmara dos Deputados.

Para o cientista político Leonardo Barreto, doutor em Ciências Políticas pela UnB (Universidade de Brasília), a baixa representatividade das mulheres negras na política brasileira decorre das duas grandes barreiras de preconceito enfrentadas por elas, uma barreira dupla: de gênero e de raça.

Barreto lembra que o País tem uma média histórica de apenas 10% de mulheres na política (na Câmara são 10%, 52 deputadas entre 513 eleitos), ambiente ainda dominado pelos homens. Na opinião dele, esse número vai demorar muito a subir se não houver cotas de cadeiras para mulheres, como acontece em outros países (na Argentina, por exemplo). A lei eleitoral brasileira exige que 30% dos candidatos dos partidos sejam mulheres, mas não estabelece cotas nas vagas. Com isso, o número de mulheres eleitas ainda é pequeno.

— Os mecanismos de preconceito da sociedade brasileira não impedem apenas o voto às mulheres negras. A primeira barreira é chegar a ser candidato. A maior parte das legendas não consegue cumprir a cota de 30% [de candidatas mulheres]. Tanto que o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) reconheceu isso e determinou que parte do dinheiro do fundo partidário tem que ser usado para formação política para mulheres, para formar essas candidatas. Mas isso é recente e ainda não há muito efeito prático.

Para Barreto, a melhor solução para aumentar a representatividade das mulheres seria criar cotas de vagas, algo como 40% das cadeiras, durante um período de tempo, 20 ou 30 anos.

— Tem toda uma literatura de Ciência Política que dá a receita de que você quebra a estrutura de preconceito colocando mais pessoas lá dentro, que sirvam de exemplo para que novas acabem entrando. É um processo de empodeiramento, que poderia acontecer de forma natural, mas você pode acelerar isso por meio de cotas.

A deputada Benedita da Silva (PT-RJ), que foi a primeira senadora negra eleita no Brasil e hoje é deputada federal licenciada, em tratamento médico, concorda que só uma reforma política poderia resolver o problema da ausência de mulheres negras no Congresso Nacional. Benedita conversou por telefone com o R7.

— Não acredito que sem uma profunda reforma política, haverá mais participação de mulheres. Precisamos de mais políticas públicas voltadas para as mulheres. E isso me preocupa. Há sobretudo essa ausência da mulher negra [na política] e um aumento da violência contra a mulher, com estupros, assassinatos, violência doméstica que tem acontecido num universo penoso da política de gênero.

A deputada lembrou que é importante ter mais mulheres na política, não só negras, mas também as indígenas que têm representação ainda menor.

— Minha trajetória foi difícil e não está completa ainda, enquanto não tivermos mulheres na Câmara e no Senado, nas prefeituras e na Presidência. E não é só isso que basta. Precisamos acesso igual à Educação. Para uma nação que tem maioria feminina e maioria de mulheres negras seria muita importante essa investida.

Do R7
Comentários

Utilize o formulário abaixo para comentar.

Ainda restam caracteres a serem digitados.
*Marque Não sou um robô para enviar.
Compartilhe nas redes sociais:

Utilize o formulário abaixo para enviar ao amigo.


Instagram