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Eleições 2018
Postada em 29/10/2018 09:56 | Atualizada em 29/10/2018 09:58 | Por R7

Desafios de Jair Bolsonaro incluem desemprego e violência

Para cientista político, agora será hora de o ex-capitão deixar de lado discurso de candidato e adotar postura de presidente
Bolsonaro subirá rampa do Palácio do Planalto daqui a 65 dias - Foto: Pilar Olivares/Reuters

A vitória de Jair Bolsonaro (PSL) nas urnas vem acompanhada de uma série de desafios complicados para resolver e que continuarão a existir a partir de 1º de janeiro de 2019, quando ele assumir a cadeira de presidente da República.

A equipe do presidente eleito vai se reunir em breve com auxiliares do presidente Michel Temer (MDB) para iniciar a transição do governo.

Na pauta, questões como reforma da Previdência, reforma tributária, intervenção federal no Rio de Janeiro e segurança pública em todo o país, entre outras.

Congresso

O novo Congresso terá 30 partidos, o maior número já registrado. Mas o perfil dos parlamentares que integrarão a Câmara dos Deputados e o Senado Federal a partir de fevereiro do ano que vem é conservador, algo inicialmente vantajoso para Bolsonaro na avaliação do cientista político e professor Rodrigo Prando, da Universidade Presbiteriana Mackenzie

"Esse perfil mais conservador já cria para ele [Bolsonaro] uma base de sustentação. Além disso, algumas bancadas como a ruralista e a dos evangélicos estão com ele, sem contar parlamentares ligados aos militares. Não me parece que ele deva ter neste início grandes dificuldades com esse Congresso", observa.

"O grande desafio do Bolsonaro vai ser tirar a roupa de candidato e vestir a roupa de presidente. Ele vai ter que abandonar o discurso e a retórica da eleição para assumir a chamada liturgia do cargo. Ele vai ter responsabilidade redobrada sobre aquilo que ele fala, assim como os filhos dele."

Presidente eleito terá 24,6 mil cargos à disposição

Para o professor, o prestígio inicial do novo presidente deverá ser um capital político valioso para a aprovação de projetos importantes no Congresso, mas só isso não bastará. "Ele vai precisar negociar e fazer concessões. Como é um deputado que sabe como as coisas funcionam, ele está ciente disso", diz. O futuro presidente já havia feito acenos ao deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), que quer se candidatar novamente à Presidência da Câmara, o que indica uma flexibilidade do discurso inicial dele.

Além disso, Bolsonaro terá que dar certa tranquilidade ao mercado financeiro, isso inclui manter o economista Paulo Guedes no ministério da Fazenda.

"Uma eventual saída de Paulo Guedes do governo criaria uma crise de confiança no mercado. O candidato que a vida toda foi intervencionista e estatizante, agora perde o principal aliado liberal. Não seria algo positivo", completa.

O futuro presidente ainda sofrerá pressões de partidos políticos para as nomeações de cargos públicos.

"A retórica do palanque é uma e na hora de governar é outra, sobretudo porque o Bolsonaro sabe como funciona. Bolsonaro pode bater no peito e dizer 'eu ganhei sozinho', sem partido, sem coligação, sem tempo de TV, sem dinheiro. Tecnicamente, não deveria nada a ninguém, mas ele sabe que para governar, exige a necessidade de cargos e indicações. Há uma diferença substancial entre ganhar e governar. A Dilma ganhou em 2014, mas não governou por causa do estilo dela, de não ceder e não querer dialogar com ninguém", diz Prando.

Economia

O país ainda registra 12,7 milhões de desempregados e 11,2 milhões que trabalham sem carteira assinada. Ainda existe o fantasma de uma piora da economia e reformas como a da Previdência e tributária são esperadas do novo governo. À frente disso, estará Paulo Guedes, o "passaporte liberal" de Bolsonaro garantiu a ele o apoio do mercado financeiro e dos empresários durante a campanha.

O apoio, no entanto, não é incondicional e futuro presidente terá a missão de reaquecer a economia e gerar empregos. O presidente do Cofecon (Conselho Federal de Economia), Wellington Leonardo da Silva, diz que o novo governo terá a missão de fazer com que o empresariado volte a investir na produção.

"A primeira coisa que precisa fazer é planejar ter um projeto de país. O Brasil não tem um projeto de nação. Não existe aqui uma elite, que mereça ser assim chamada, do ponto de vista do desenvolvimento econômico. No Brasil, nós não temos isso, temos uma galera que vende qualquer coisa e o negócio é botar dinheiro no banco para render 6,5% ao ano. Se porta apenas como rentista. O empresário brasileiro hoje prefere investir recursos para financiar a dívida pública e não investe na produção, que é o que traz retorno ao país", avalia.

Silva fala da necessidade de se discutir a reforma tributária "ainda no primeiro ano de governo". "Precisamos acabar com o mito de que a tributação no Brasil é excessiva. Ela é injusta com quem ganha menos. Mas a reforma não é uma tarefa simples, até porque bancos, empresários, Estados, municípios... cada um vai querer algum tipo de benefício."

A reforma da Previdência nos moldes desenhados pelo presidente Michel Temer (MDB) já foi rejeitada por aliados de Bolsonaro e deve ser revista pela equipe de Bolsonaro. O tema, que enfrenta grande resistência na sociedade, é tido pelo mercado financeiro como uma prioridade.

Pesquisa BTG/FSB mostrou na semana passada que 84% dos eleitores são contrários ao aumento da idade mínima de aposentadoria para 65 anos. O combate à violência foi uma das bandeiras de campanha mais levantadas por Bolsonaro. Para o pesquisador Cláudio Edward dos Reis, vice-coordenador do Núcleo de Estudos sobre Violência e Relações de Gênero da Unesp (Universidade Estadual Paulista) em Assis, o tema da segurança pública terá que ser enfrentado logo nos primeiros meses de mandato.

"Eu imagino que o primeiro [desafio], tendo em vista o acirramento desses últimos dias antes das eleições, será pacificar o país. Haverá necessidade de uma atuação diplomática para pensar em políticas que possam atender às necessidades da população", observa.

Ele também avalia que Bolsonaro e o novo governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), terão que entrar em um acordo sobre o que será feito em relação à intervenção federal no Estado.

"Eu imagino que o governo deverá interromper a intervenção no Rio, porque existem algumas medidas que o Congresso precisa votar e enquanto houver a intervenção o Congresso não pode realizar essas votações. Juntamente com o novo governador do Rio de Janeiro, há de se pensar um novo plano para combater a violência."

O cientista político Rodrigo Prando aposta que Bolsonaro deverá investir inicialmente nas pautas de segurança no Congresso, como a redução da maioridade penal e a revisão do Estatuto do Desarmamento. "Esses são projetos que eu acredito que ele aprovaria com mais facilidade e passa a imagem de um governo forte para aprovar posteriormente outras pautas."

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