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Jacson Tigre

Sobre o autor

Escritor, Jornalista, Locutor Publicitário, Apresentador e Radialista Brasileiro DRT: 1096 Rádio e TV. Atualmente trabalha na Pajuçara FM Arapiraca.
Postada em 16/03/2019 21:23 | Atualizada em 30/05/2019 22:33

Crônica: Maximiliano

Minha primeira crônica publicada no blog, leia!
Foto: Jacson Tigre

Cachoeira: Uma velha casa se destaca num terreno ermo no meio da caatinga. Simples: uma sala, quarto pequeno e uma cozinha. No quarto apertado, dormia Maximiliano, os pés passavam um palmo e meio da cama. Sono pesado, profundo, acordou na madrugada. Levantou-se antes que o primeiro raio de luz chegasse.

Sentou na ponta do ninho com as mãos apoiadas sem muita força. Uma cama feita de vara de marmeleiro, amarrada firme com cipós, na base de sua estrutura, um colchão que foi produzido no quintal. Na confecção, usou tecido de chita, barbante, e, no cheio, palhas de milho seca.

Tentou levantar rápido, pendeu, não se sustentou em pé, voltou a sentar, o colchão chiou. Queixando-se, arqueou a testa, esfregou os olhos azuis e coçando a cabeça encabulado, curvou-se para puxar uma alpercata de couro embaixo da cama, junto ao penico de estanho branco desgastado pelo tempo. Enfim, deixou o leito.

Se dirigiu a porta do quarto lentamente. Tomado pelo sono e segurando nas paredes. Imaginou ser umas quatro e meia. O galo sobre o alpendre, cantou pela primeira vez, outro respondeu longe, depois mais outro. Não há relógio mais certo nas cachoeiras.

O cachorro perdigueiro estava perto da porta, deitado num saco de estopa empoeirado no batente. Ouviu passos lentos, ficou de orelhas em pé e o rabo abanando, era seu dono deixando o rancho.

No escuro da madrugada, Maximiliano pegou o candeeiro que estava na mesa de madeira no centro da sala. Riscou um fósforo e o acendeu, o cheiro de gás e a fumaça se alastrou pela casa. Caminhou até a porta, destravou o ferrolho enferrujado, puxou uma barra de madeira que reforçava a segurança e a colocou encostada num pilão robusto próximo a janela. O cachorro latiu duas vezes, chegou perto querendo carinho.

Maximiliano, se deparou com o terreiro batido, seco. Levantou a vista, uma leve brisa tocou o seu rosto sofrido, olhou o céu que tinha algumas nuvens esparsas e tons avermelhados. Nítido sinal que o sol estava para chegar. Levou a mão direita a cabeça e suspendeu o chapéu que colocara há pouco. Timidamente agradeceu ao divino por mais um dia — Louvado seja o nosso senhor Jesus Cristo! — e emendou — Para sempre seja louvado!

Na mochila de pano que levava do lado direito próximo aos quartos, carregava na marmita: um punhado de fava, uma cuia de farinha e carne seca que fora salgada com sal grosso e colocada ao sol. Pendurada num varal de arame farpado nos fundos da casa. Uma quartinha de barro amarrada com uma corda no cinturão de couro.

Pegou a inchada e a foice que deixara no mesmo lugar de sempre, jogou as ferramentas nas costas. Se deslocou pelo caminho estreito que dava acesso a caatinga. O cão correu atrás, feliz como o diabo. Ambos se meteram de mato adentro e o sol nasceu!

Foto: Ítalo Rodrigues 

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