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Alagoas
Postada em 22/09/2025 17:19 | Atualizada em 22/09/2025 17:24 | Por Todo Segundo

Família mantém homem acorrentado em Arapiraca após abandono do Estado

Caso evidencia ausência de assistência e precariedade do sistema de saúde mental em Alagoas
Mulher mantém irmão acorrentado em Arapiraca e denuncia abandono do Estado - Foto: Todo Segundo

O caso acontece em Arapiraca, no Agreste de Alagoas, e revela um drama silencioso: um homem de 48 anos, com transtornos psiquiátricos graves e dependência de drogas, é mantido acorrentado no próprio quarto pela família, que luta para conter surtos de agressividade sem apoio do Estado.

A cena é chocante. Dentro de um quarto escuro e degradado, com paredes sujas e o chão tomado por roupas velhas, restos de objetos e poeira, o homem aparece sentado sobre um móvel de madeira. Ele está cabisbaixo, de braços cruzados, usando bermuda jeans e camiseta simples. No pé direito, uma corrente com cadeado o mantém preso, impedindo qualquer tentativa de sair dali.

Segundo relatos da irmã, identificada apenas como Josivânia, não havia outra alternativa. “Se soltar, ele vai para a rua, usa droga, volta agressivo. Minha mãe é idosa, acamada, e eu não consigo lidar sozinha. Não quero ver ele assim, mas não tenho escolha. O Estado não ajuda”, lamenta, a moradora do bairro Zélia Barbosa.

O episódio expõe um drama que se repete em muitas casas brasileiras: famílias obrigadas a improvisar soluções dolorosas diante da ausência de políticas públicas eficientes em saúde mental e assistência social.

Embora existam Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), especialistas apontam falta de vagas, de acompanhamento contínuo e de leitos para internações em situações críticas. “Essa família não pode ser criminalizada sozinha. Acorrentar alguém é degradante, mas também é resultado de abandono estrutural”, analisou um profissional de saúde mental ouvido pela reportagem.

Manter uma pessoa presa por correntes é considerado uma violação de direitos humanos, configurando privação ilegal de liberdade em condições degradantes. No entanto, no contexto de desespero, a prática surge como uma tentativa de proteção tanto para o paciente quanto para a família.

O dilema sem resposta

Enquanto o poder público não assume seu papel, dramas como esse continuam se repetindo. A pergunta — “o que fazer?” — segue sem resposta simples. O caminho apontado por especialistas passa por:

  • Ampliação da rede de CAPS, com funcionamento pleno e atendimento diário;
  • Criação de leitos psiquiátricos em hospitais gerais e comunitários;
  • Possibilidade de internações involuntárias em casos de risco, mediante decisão judicial;
  • Estruturação de redes de apoio comunitárias, para que famílias não enfrentem sozinhas situações de tamanha gravidade.

Sem essas medidas, casos como o de Arapiraca continuarão a ecoar como símbolos de abandono, violência silenciosa e dor compartilhada.

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