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Luan Moraes

Sobre o autor

Possui graduação em História pela Universidade Estadual de Alagoas, especialização em Gestão e Coordenação Pedagógica pela Faculdade São Tomás de Aquino e mestrado em História Social pela Universidade Federal de Alagoas.
Postada em 27/07/2024 16:28 | Atualizada em 30/07/2024 20:01

Opinião: Será que estamos falando a mesma língua?

A globalização, a educação e a perda da nossa identidade
Na minha opinião... - Foto: Professor Luan Moraes

Me permita atualizar frase de Octavio Ianni, pois o mundo atual não é para principiantes. Estamos presenciando uma invasão silenciosa da nossa língua e cultura. A globalização está moldando a identidade cultural brasileira e não estamos sequer preocupados.

O mundo globalizado nos conecta como nunca antes, mas essa interconexão vem acompanhada de desafios. Um deles é a crescente influência de outras culturas e idiomas sobre a nossa própria identidade. A padronização linguística, a valorização excessiva do estrangeiro e a superficialidade das novas tecnologias são alguns dos aspectos que moldam a forma como nos comunicamos e como enxergamos o mundo.

Nesse mundo atual, o “Coach” virou profissão, e para exercê-la não precisa ostentar um currículo recheado ou ser tão experiente, basta criar um discurso bonito, cheio de termos em inglês, fazer uma sequência de slides com frases de autores consagrados, mas sem se aprofundar neles, falsear a falta de caráter e a desfaçatez da picaretagem que deseja vender e pronto, você é um sucesso! E tem muita gente se metendo a esperto e ganhando dinheiro com isso.

É uma onda de valorização desenfreada de tudo o que vem de fora. Um tsunami que tem levado à desvalorização da nossa própria língua e cultura. Termos em inglês se tornaram comuns em diversos contextos, muitas vezes substituindo palavras e expressões perfeitamente adequadas em português.

Salões de beleza viraram "coufeurs", barbearias se transformaram em "barber shops" e até mesmo pequenas lojas são chamadas de "stores". Essa prática, além de empobrecer nosso vocabulário, revela um complexo de inferioridade que nos leva a buscar validação em outras culturas.

Veja, por exemplo, a extrema desvalorização da nossa língua. O complexo de vira-latas, com a crença arraigada de que tudo que é da nossa gente é inferior ao que o mundo lá de fora faz. Tudo isso, para ganhar dinheiro encima da ignorância de um povo sofrido, que compra e parcela os smartphones em diversas vezes.

Aliás, é por estes aparelhos, que a nossa cultura vai sendo invadida e invalidada, quando as gerações mais novas, ao invés de lerem livros, torram seus miolos em jogos e matam o tempo nas redes sociais. Atividade que seria normal, se uma parte desses "games" não os fizesse estourar os limites dos cartões de crédito dos pais, comprando "skins", "gadjets" e outras quinquilharias virtuais que não servem para nada, a não ser aumentar o vício e reduzir a capacidade de interpretação textual desses jovens, que já não sabem sequer escrever os verbos no infinitivo.

Assim, as novas tecnologias, como smartphones e redes sociais, também exercem um papel importante nesse processo. A facilidade de acesso à informação e a comunicação instantânea são, sem dúvida, grandes vantagens. No entanto, o uso excessivo dessas ferramentas pode levar à superficialidade, à fragmentação da atenção e à perda da capacidade de reflexão. A cultura do "like" e do compartilhamento rápido incentiva a produção de conteúdos cada vez mais curtos e menos elaborados, prejudicando a qualidade da comunicação e o desenvolvimento do pensamento crítico.

Até a educação, que deveria ser um espaço de valorização da cultura e da língua, também tem sido afetada por essas mudanças. A adoção de metodologias estrangeiras, como o "problem-based learning" e o "peer instruction", sem uma adaptação adequada à realidade brasileira, pode levar à perda da identidade pedagógica e à desvalorização do conhecimento local. Como você vê, nem as salas de aula passaram ilesas dessa nova onda colonizadora.

O que mais se fala nos ciclos de formação para professores são nas metodologias ativas, STEAM (sigla estrangeira para Science, Tecnology, Engineering, Arts e Mathmatic). As enfadonhas formações, com "profissionais" que acham que tudo se resume a adotar métodos mirabolantes, só por serem novidades nos ciclos educacionais.

É preciso ressaltar que a globalização não é um fenômeno negativo em si. Ela nos permite acessar informações e culturas diversas, expandindo nossos horizontes e enriquecendo nossa vida. No entanto, é fundamental que essa globalização seja acompanhada de um olhar crítico e de uma valorização da nossa própria identidade cultural.

Como professores, estudantes e cidadãos, temos o papel de preservar nossa língua e nossa cultura, sem nos fechar para as influências externas. É preciso encontrar um equilíbrio entre a abertura às novas ideias e a valorização das nossas raízes. Ao valorizar nossa língua e nossa cultura, estamos fortalecendo nossa identidade e contribuindo para a construção de um futuro mais justo e equitativo.

Enfim, essas coisas absurdas vão desestruturando nossa língua e desvalorizando a cultura local, criando uma padronização, onde ninguém quer ser diferente da maioria. O que nos resta, principalmente como professores, é o Burnout, a ansiedade e as diversas crises do estresse de ter que se modificar para atender demandas tão superficiais.
Mas isso é a minha opinião e você considera se quiser. Ou pode achar que enlouqueci.

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